Já fortemente acelerada pela recente prisão de João Santana, marqueteiro das campanhas da presidente Dilma Rousseff (PT), e pelas notícias em torno da delação premiada de Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo no Senado, a crise política brasileira conheceu, nesta sexta-feira (4), novos e candentes desdobramentos.
A condução coercitiva do ex-presidente Lula às dependências da Polícia Federal no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, teve o efeito de reiterar a amplitude e o peso das suspeitas que o cercam.
Se os casos do Guarujá e de Atibaia são de pleno conhecimento público, o impacto de sua sistematização em detalhe pelos investigadores e, sobretudo, o efeito simbólico da ação policial tornam evidentemente mais acesas as convicções políticas em curso.
Ganha ímpeto a impressão de que o sistema de favorecimentos e negócios construído pelo poder petista se apressa no rumo do colapso. Ao mesmo tempo, as circunstâncias da operação deram algum fôlego à militância do PT.
Não apenas de setores aliados ao partido surgiram críticas ao episódio. Vozes diversas no meio jurídico argumentam que o ex-presidente poderia ter sido intimado a dar suas explicações sem o recurso a aparatos de força e à pirotecnia que os acompanha.
O juiz federal Sergio Moro entendeu que a condução coercitiva seria necessária para evitar riscos de tumulto. Ocorre que manifestações, a favor e contra o ex-presidente, ainda assim se verificaram; teriam igualmente acontecido caso fosse espontâneo seu comparecimento.
Abriu-se, entretanto, a oportunidade para que Lula pudesse reforçar, com renovado calor e reanimada audiência, o discurso da vitimização. Em longo pronunciamento, o ex-presidente estendeu-se sobre a simplicidade de seus hábitos e sobre os méritos de sua administração –silenciando, obviamente, sobre os casos concretos que lhe caberia explicar.
A mistura de populismo gasto e desconversa ofendida, a que não faltaram anúncios de uma possível candidatura presidencial, soou como espécie de conclamação aos correligionários, contribuindo para recompor, na solidariedade do desespero, suas linhas de cisão e desentendimento com o Planalto.
Embora isolados no momento, inspiram cautela os riscos de maior acirramento ideológico no país.
Num regime republicano, todos são iguais perante a lei. O PT e seus líderes, assim como qualquer outro agrupamento político, terão de responder pelas irregularidades que hajam cometido. A retórica lulista nunca soou tão inconvincente, e inadequada, como agora.
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