• Doações de empreiteiras e pagamentos por palestras somam R$ 30,7 milhões. Moro vê ‘generosidade’ suspeita
A Lava-Jato suspeita que dinheiro do esquema de corrupção da Petrobras possa ter irrigado os cofres do Instituto Lula e da LILS Palestras, empresa do ex-presidente Lula. Entre 2011 e 2014, Camargo Correa, OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez, UTC e Queiroz Galvão doaram R$ 20,7 milhões ao instituto e pagaram R$ 9,920 milhões por palestras, num total de R$ 30,7 milhões. Para a força-tarefa, o petista pode ter sido diretamente beneficiado pelo esquema. Documentos apreendidos mostram que a Odebrecht pagou R$ 449,5 mil líquidos (livre de impostos) por palestra de Lula. No caso da OAS, foram US$ 200 mil (cerca de R$ 740 mil).
O juiz Sérgio Moro afirmou em despacho que os vultosos valores chamam atenção e geram dúvidas sobre a “generosidade” das empreiteiras. Para a força-tarefa da Lava-Jato, Lula teria sido beneficiado pelo esquema criminoso instalado no governo federal, que usou recursos da Petrobras.
— Se ele conhecia o esquema e se recebeu vantagens indevidas, estamos investigando nesta operação — disse o procurador Carlos Fernando Lima.
Envolvimento de filhos de Lula
A quebra de sigilos fiscal e bancário do Instituto Lula e da LILS também revelou pagamentos a empresas dos filhos do ex-presidente e a pessoas vinculadas ao PT. A LILS tem como endereço a residência de Lula e não possui qualquer empregado.
O MPF informou ainda ter localizado minutas de contratos firmados entre a OAS e LILS Palestras. Porém, três executivos do alto escalão da OAS, que atuaram entre 2006 e 2014, disseram não se recordar de Lula ter feito palestra na empresa ou custeada por ela.
O Instituto Lula pagou R$ 1,349 milhão à G4 Entretenimento, que pertence à Fábio Luís, filho de Lula, Kalil Bittar e Fernando Bittar — um dos sócios do sítio de Atibaia. Outros R$ 114 mil foram pagos à Flexbr Tecnologia, de Marcos Cláudio Lula da Silva e Sandro Luís Lula da Silva. Luís Cláudio Lula da Silva, por sua vez, recebeu R$ 227.138,85. Em nota, o Instituto Lula afirmou que a G4 presta serviços à instituição há cinco anos e que a suspeita de desvio de dinheiro é “ilação” do MPF.
Lula também teria recebido benefícios indiretos. A Lava-Jato descobriu que a OAS pagou, entre janeiro de 2011 e janeiro de 2016, R$ 1,3 milhão pela armazenagem de parte da mudança retirada do Palácio do Planalto.
Os procuradores dizem que o contrato, em nome da OAS, foi falsificado para omitir o conteúdo armazenado, descrito como material de escritório e mobiliário da construtora. A Granero informou ter armazenado o acervo museológico de Lula, retirado em janeiro passado por Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula. “O Sr. Paulo Okamotto informou que a armazenagem do acervo museológico seria feita por um curto período de tempo e contratada pela apoiadora do Instituto Lula, a empresa OAS”.
Para Moro, Lula é real dono de sítio
Para Moro, há provas de que Lula é o real proprietário do sítio em Atibaia, que teve reformas custeadas pelo empresário José Carlos Bumlai e pela Odebrecht. Segundo o juiz, uma mensagem eletrônica do advogado de Lula, Roberto Teixeira, indica que os atuais donos do sítio, Jonas Suassuna e Fernando Bittar, são “pessoas interpostas": “Conforme solicitado, segue minuta das escrituras de ambas as áreas. Falei ontem com o Adalton e a área maior está sendo posta em nome do sócio do Fernando Bittar. Qualquer dúvida, favor retornar", diz a mensagem.
O sítio foi adquirido em 2010 por R$ 1,539 milhão. As reformas feitas entre 2010 e 2014 custaram R$ 770 mil. A cozinha de R$ 170 mil foi paga pela OAS.
É no nome da empreiteira que está o tríplex do Guarujá, do qual Lula nega ser dono. A Lava-Jato descobriu no celular do ex-presidente da construtora, Léo Pinheiro, mensagens que mostram que o ex-presidente e sua mulher, Marisa Letícia, foram os beneficiários da cozinha instalada no apartamento.
Para os investigadores, embora Lula diga que o apartamento não é dele, há várias provas em contrário, como os depoimentos de dois engenheiros da OAS, do zelador, do porteiro e do síndico do Solaris, além de informações prestadas por sócios e empregados da empresa Talento, que reformou o tríplex. Os gastos com o apartamento somaram R$ 1 milhão.
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