• Presidente fez reuniões com ministros, manteve agenda para mostrar 'que governo seguia trabalhando' e externou 'indignação'
Tânia Monteiro e Carla Araújo - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff articulou desde cedo no Palácio do Planalto para alinhar seu posicionamento e dar resposta em relação à condução coercitiva de seu antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva. Comandou uma série de reuniões com ministros, manteve a agenda para mostrar “que o governo seguia trabalhando”, até decidir no fim do dia externar sua “indignação” ao fazer um pronunciamento em defesa do ex-presidente.
“Quero manifestar o meu mais absoluto inconformismo com o fato de o ex-presidente Lula que, por várias vezes, compareceu de forma voluntária para prestar esclarecimentos, seja agora submetido a uma desnecessária condução coercitiva para prestar depoimento”, discursou Dilma, que foi acompanhada pelos ministros Jaques Wagner (Casa Civil), Tereza Campello (Desenvolvimento Social), Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Wellington Silva (Justiça), José Roberto Cardozo (AGU), Juca Ferreira (Cultura), Nilma Lino Gomes (Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos).
Antes de sua declaração à imprensa, a presidente já havia soltado uma nota oficial.
“O respeito aos direitos individuais passa, nas investigações, pela adoção de medidas proporcionais que jamais impliquem providências mais gravosas do que as necessárias para o esclarecimento de fatos”, disse a presidente, no texto.
A presidente frisou que seu governo garantiu a autonomia dos órgãos responsáveis por investigações de atos de improbidade e de corrupção, mas que sempre exigiu “respeito à lei e aos direitos de todos os investigados”.
Mais cedo, durante reunião com prefeitos, no Palácio do Planalto, Dilma já havia “protestado” contra a ação da Polícia Federal e classificado como “um exagero” a condução coercitiva de Lula. “A presidente protestou porque ela acha que as coisas estão fugindo da normalidade do estado democrático de direito e lamentou que isso esteja acontecendo”, contou o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, do PDT.
Quando Lula já havia decidido se manifestar publicamente em São Paulo, a presidente Dilma decidiu telefonar ao antecessor como manifestação de solidariedade e apoio. A relação dos dois, que já vinha estremecida, ficou mais delicada com a nova ação da PF contra Lula e sua família. O fato ampliou ainda mais a dificuldade de sustentação do governo Dilma. Apesar do abalo, há a possibilidade de que os dois se encontrem hoje na capital paulista para afinar o discurso e traçar estratégias de defesa do seu mandato, do ex-presidente e do PT.
Defesa própria. Apesar de iniciar seu pronunciamento com a fala em defesa de Lula, Dilma usou a maior parte do tempo para rebater acusações do senador e ex-líder do governo Delcídio Amaral e defender a compra da Refinaria de Pasadena, episódio que faz Dilma demonstrar bastante irritação. A presidente destacou pontos da nota que o governo enviou à Procuradoria-Geral da República para justificar o negócio e rebateu quase todos os pontos revelados na delação divulgada na quinta-feira pela revista “IstoÉ”.
“Quero também manifestar não só o meu inconformismo com o vazamento ilegal dos termos de uma hipotética delação premiada feita pelo senador Delcídio do Amaral. Manifesto a minha indignação com os termos das denúncias que teriam sido firmados nesta delação”, disse a presidente.
Dilma acusou o ex-líder do governo de tentar atingi-la por sentimento de “vingança”. “Acredito que seja lamentável que ocorra o vazamento da hipotética delação premiada que, se chegou a ser feita, teve como motivo único a tentativa de atingir a minha pessoa e o meu governo e provavelmente pelo desejo de vingança, imoral e mesquinho desejo de vingança, e de retaliação, de quem não defendeu quem não poderia ser defendido pelos atos”, destacou.
A presidente voltou a criticar vazamentos ilegais de informações e prejulgamentos.
“Vazamentos ilegais, prejulgamentos antes do exercício do contraditório e da ampla defesa, não contribuem para a busca da verdade, mas apenas servem para animar a intolerância e retóricas antidemocráticas”, afirmou Dilma, em pronunciamento na tarde desta sexta-feira.
Dúvida. Pela manhã, no Palácio da Alvorada, a “perplexidade” tomou conta dos integrantes do governo, que não conseguiam decidir o que fazer. Assessores presidenciais relatavam que todos estavam em “estado de choque”. Em um primeiro momento, depois de relatarem a “estranheza” da operação ocorrer um dia depois da delação de Delcídio, interlocutores da presidente tentavam dar um ar de normalidade ao tumultuado dia, informando a presidente estava cumprindo normalmente sua agenda.
O governo não sabia se defendia Lula com veemência ou que postura adotava. Após inúmeras avaliações, reuniões e ponderações, a presidente Dilma decidiu se pronunciar por meio de nota, defendendo o antecessor e padrinho político. Não satisfeita, resolveu que iria fazer um pronunciamento, sem direito a perguntas, para mostrar sua “indignação” e “inconformidade” com o tratamento dispensado pela PF ao ex-presidente. A presidente ainda se reuniu com governadores de estado, para defender a aprovação da CPMF./Colaborou RacheL Gamarski
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