quinta-feira, 28 de abril de 2016

Dilma veta transição e PT prepara oposição a Temer

Por Andrea Jubé, Lucas Marchesini, Raphael Di Cunto e Thiago Resende – Valor Econômico

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto não instituirá uma equipe de transição para a eventual ascensão do vice-presidente Michel Temer, caso a maioria do Senado determine o afastamento da presidente Dilma Rousseff do cargo no dia 11 de maio, e não pretende facilitar a vida do sucessor. A avaliação interna do governo, segundo petistas com trânsito no Planalto, é que a transição só se consuma entre governos eleitos, mas há orientação para que secretários-executivos deixem relatórios prontos.

Ontem Dilma afirmou, em entrevista para a CNN, que lutará para sobreviver. Em discurso para militantes de Direitos Humanos, disse que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é o "pecado original" do impeachment.

Ontem o ministro da Saúde, Marcelo Castro - deputado federal do PMDB do Piauí, que votou contra o impeachment - pediu demissão do cargo, por determinação de seu partido. Com isso, a única remanescente do PMDB no governo, contrariando orientação da Executiva da sigla, é a ministra da Agricultura, Kátia Abreu. Amiga de Dilma, ela disse que fica até o fim do governo. Na próxima semana, lança - de forma antecipada - o novo Plano Safra ao lado de Dilma.

Castro pretendia permanecer no cargo pelo menos até amanhã, quando Dilma lançará nova etapa do programa Mais Médicos, abrindo mais vagas para profissionais brasileiros. Dilma decidiu antecipar lançamentos e apressar inaugurações de obras, para não deixar nada pronto para o vice. Está no horizonte a inauguração do novo terminal do Aeroporto de Goiânia, cuja Prefeitura é comandada pelo PT.

Como não haverá uma equipe de transição, a orientação interna do governo é que os secretários-executivos produzam relatórios de gestão para os futuros ministros, sem reuniões ou interlocução com os sucessores. "Ninguém vai sair bagunçando os gabinetes, mas não vamos entregar tudo de mão beijada", disse ao Valor um petista que circula no Planalto.

"O cenário do governo Michel é de ruptura democrática, não existe transição nesse caso", disse o vice-líder do governo na Câmara, Paulo Teixeira (PT-SP). "Vemos o afastamento da presidente como inevitável pelos dados que temos, já existe uma maioria pública em favor da admissibilidade [do impeachment] no Senado e por isso discutimos nosso comportamento como oposição", completou o vice-líder da bancada Ênio Verri (PR).

Os deputados petistas se reuniram ontem com o presidente do PT, Rui Falcão, e o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), para discutir a atuação na Câmara. Os petistas decidiram fazer uma oposição dura às políticas do programa econômico "Uma Ponte para o Futuro", lançado por Temer no ano passado. A bancada também se opõe à realização de novas eleições presidenciais, porque avalia que o PT não pode se dissociar dos movimentos sociais, que não encampam a proposta.

Ontem em entrevista a Christiane Amanpour, jornalista da rede de televisão americana CNN, Dilma afirmou que lutará para sobreviver e que está defendendo o princípio democrático que rege a vida política brasileira.

Na entrevista que será exibida hoje, Dilma alegou que os líderes do impeachment são alvo de denúncias de corrupção e citou especificamente Eduardo Cunha, que é réu por corrução e lavagem de dinheiro. Questionada sobre sua baixa popularidade, Dilma ressalvou que ninguém pode ser afastado por ser impopular.

Ontem à tarde, durante a Conferência de Direitos Humanos, Dilma afirmou que Eduardo Cunha é o "pecado original". "O senhor presidente da Câmara queria fazer jogo escuso com o governo, de votar para impedir que ele seja julgado no Conselho de Ética, e aí ele não entra com processo de impeachment", lembrou Dilma.

"Um governo que aceita uma negociação dessas é governo que entra em processo de apodrecimento. Por isso, nós nos recusamos a essa negociação", acrescentou a presidente.

Dilma alegou que, como não havia razão para o seu impedimento, "eles arranjaram uma acusação e, como toda acusação arranjada, é frágil". "Me acusam de ter práticas contábeis erradas, isso sempre foi feito no Brasil, só que na minha vez é crime, e é crime porque se não tem crime pra me acusar, inventam que é crime aquilo que não é crime", ressaltou.

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