sexta-feira, 29 de abril de 2016

Temer convida Serra para Itamaraty e rejeita reeleição

• Acordo para atrair apoio do PSDB inclui ficar fora da disputa de 2018

Com apoio de petistas e após encontro com Dilma, Esquivel fala em golpe no plenário do Senado e provoca protestos da oposição

Depois de ser cotado para os ministérios da Saúde e da Educação no caso de o vice Michel Temer assumir o governo se o Senado aprovar o impeachment da presidente Dilma, o senador José Serra (PSDB) foi convidado para o Itamaraty, segundo JORGE BASTOS MORENO. Para atrair apoios, especialmente do PSDB, Temer descartou disputar a reeleição em 2018. O Prêmio Nobel de 1980, Adolfo Pérez Esquivel, apoiado por petistas, falou em golpe no Senado e provocou protestos da oposição.

Temer diz que abre mão da reeleição em 2018

• Decisão agrada a tucanos; vice-presidente convida José Serra para Ministério das Relações Exteriores

Simone Iglesias, Jjúnia Gama, Catarina Alencastro, Maria Lima, Tiago Dantas - O Globo

-BRASÍLIA E SÃO PAULO- A poucos dias da votação do impeachment, que poderá levá-lo a assumir o lugar da presidente Dilma, o vice Michel Temer garantiu que, caso ocupe o posto, abrirá mão de uma eventual reeleição em 2018. A afirmação foi feita em entrevista ao SBT. Segundo ele, isso lhe dará mais liberdade de ação durante o período em que permanecer à frente do governo. Ontem, Temer deu mais um passo na montagem do possível Ministério ao convidar o tucano José Serra para a pasta das Relações Exteriores, como informou o blog de Jorge Bastos Moreno.

— Sem dúvida alguma (apoiaria o fim da reeleição). Até porque isso me daria maior liberdade para a ação governamental se eu vier a ocupar o governo — disse Temer ao SBT.

Nos dois encontros que teve nos últimos dias com os líderes do PSDB, Cássio Cunha Lima e Antônio Imbassahy, e com o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, Temer já tomara a iniciativa de tranquilizar os tucanos sobre sua disposição de não disputar a reeleição em 2018. Nas conversas, discutiu-se que poderia partir de Temer a iniciativa de encaminhar ao Congresso uma PEC para acabar com a reeleição, valendo para 2018, para distensionar a convivência com partidos que têm projetos de disputar a Presidência daqui a dois anos e meio. Mas ele ainda não decidiu se vai propô-la.

Em São Paulo, Aécio Neves admitiu que a opção de Temer por não se candidatar em 2018 facilitará as alianças no eventual governo do peemedebista:

— Ele tem dito que não tem como objetivo novo mandato. Se me perguntar se isso (reeleição) é pré-condição diria que não. Mas, se perguntar se estimula que outras forças políticas se juntem a ele, eu diria que sim. É algo natural. Não é imposição (do PSDB).

Na entrevista ao SBT, Temer afirmou que seu objetivo é recuperar a economia do país e encerrar os conflitos:

— Ficaria felicíssimo se, ao final de um eventual governo, eu conseguisse colocar o país na rota do crescimento, conseguisse pacificar, não podemos mais ter essa coisa de brasileiros contra brasileiros, se eu conseguisse dar uma certa harmonia à sociedade, que o Brasil voltasse a ser um país alegre.

Com a resistência de Serra em aceitar o Ministério da Educação, Temer negociou com o tucano, na madrugada de ontem, para que ele comande o Ministério das Relações Exteriores.

Como chanceler, Serra poderia usar sua formação na área econômica para reestruturar o Departamento de Comércio Exterior, hoje vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que seria incorporado ao Itamaraty. A pasta do Desenvolvimento é uma das que Temer deve extinguir. A missão de Serra seria retomar parcerias comerciais que ficaram paralisadas nos governos do PT.

Serra pretendia ser ministro da Fazenda, mas o cargo deverá ser ocupado pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Caso ele aceite ser chanceler, isso será discutido com Aécio Neves, que ontem se reuniu em São Paulo com o ex-presidente Fernando Henrique e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

FH disse que um governo Temer não pode “ter a cara” de nenhum partido e deve aceitar quem quiser ajudá-lo na atual “emergência nacional”:

— O PSDB, a meu ver, não deve se negar (a participar de um novo governo). Mas tem que ver para fazer o quê. Não será um governo do PSDB. A meu ver, não pode ser governo de nenhum partido, não pode ter a cara de nenhum partido. Vou chamar de um governo de emergência nacional. Quem vai se negar a ajudar o país numa emergência?

Aécio afirmou que o documento que o PSDB deve apresentar a Temer na próxima semana tem “condições mínimas” para o país sair de situações econômicas e sociais “desesperadoras”.

Na entrevista ao SBT, Temer disse que sua principal preocupação, caso assuma a Presidência, será adotar medidas econômicas para que o Brasil volte a crescer e para reduzir o desemprego. No Palácio do Jaburu, Temer admitiu que sente um grande peso com a possibilidade de assumir o poder, porque há pouco tempo para formar esse eventual governo e montar a estratégia. Temer disse crer, no entanto, que poderá contar com o apoio do Congresso para levar à frente as medidas que julgar necessárias para alavancar a economia.

— A principal preocupação é a geração de empregos. Todo e qualquer plano econômico, seja meu ou de quem estiver no poder, deve buscar a abertura de vagas para emprego. Essa é a primeira providência a ser tomada — disse.

Segundo o vice, a mensagem que deve ser passada à população é de otimismo.

— Não fale em crise. Trabalhe ou invista. Esta é a mensagem que eu penso que o Brasil precisa — disse Temer.

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