O PSDB parece finalmente ter compreendido qual é seu papel nesta dramática quadra da história do País. O partido, que se apresenta como líder da oposição ao governo do PT, começa a abandonar a atitude acanhada, meramente eleitoreira, que vinha mantendo em relação ao provável governo de Michel Temer – e seus principais dirigentes já manifestam disposição de participar da futura administração.
Não é uma decisão qualquer: ao se assumirem como sócios de Temer e do PMDB – e não como meros observadores, atitude que lhes permitiria emprestar apoio apenas quando lhes fosse conveniente, deixando para o governo o ônus de graves e impopulares decisões –, os tucanos aceitam o risco óbvio de serem reconhecidos no futuro como corresponsáveis por uma administração de apertos e sacrifícios.
É claro que nenhum partido político pode deixar de fazer cálculos eleitorais antes de tomar suas decisões, ainda mais quando o quadro se apresenta tão complexo como o atual. Mas o momento exige, acima de tudo, espírito público. O julgamento da história costuma ser implacável com os que hesitam entre o certo e o errado.
Pode-se presumir que o distanciamento que os tucanos inicialmente pretendiam manter do governo Temer, a fim de angariar a simpatia dos eventuais descontentes, não lhes acrescentaria nenhum voto – ao contrário, conferiria ao PSDB a pecha de partido oportunista, incapaz de enxergar além do seu palanque. Nada disso seria coerente com o discurso de uma agremiação que sempre reivindicou a posição de vanguarda da civilidade na política e sempre defendeu o compromisso, em primeiro lugar, com o País.
Se mantivesse a atitude paroquial que orientou suas primeiras reações à articulação do que poderá ser o governo Temer, recusando-lhe solidariedade institucional, o PSDB ficaria muito perto de se igualar ao PT, partido que jamais pensou senão em seus interesses e que, por essa razão, carregará para sempre a responsabilidade de ter colaborado de forma decisiva para condenar o Brasil àquela que provavelmente será reconhecida como a mais grave crise política, econômica e moral de sua história.
Felizmente, o bom senso parece ter prevalecido entre os tucanos, que entenderam que somente uma forte percepção de unidade em torno do novo governo será capaz de legitimá-lo na luta para convencer a opinião pública de que será necessário fazer sacrifícios para recolocar o País nos trilhos.
O primeiro tucano a dar o passo na direção correta foi Fernando Henrique Cardoso.
O ex-presidente, em entrevista à Folha de S.Paulo, se disse “propenso” a aceitar que o PSDB entre no governo, “indicando nomes” para Ministérios, e a razão disso é óbvia: “Porque a situação do Brasil é mais grave do que parece”. FHC salientou que essa adesão depende de certas condições – entre os vários itens da pauta tucana estão uma reforma política, o compromisso de não interferir na Lava Jato e um acordo para as eleições deste ano. Mesmo assim, tratou-se de uma clara mudança de atitude – dias antes, o ex-presidente havia questionado: “Se o governo (Temer) for mal, a culpa será do PSDB, e se for bem, o mérito será do PMDB?”.
A nova disposição manifestada por FHC foi rapidamente absorvida pelo presidente do PSDB, Aécio Neves. Desde a bem-sucedida votação do processo de impeachment na Câmara, o senador mineiro vinha dizendo que seu partido daria apoio a Temer, mas não forneceria oficialmente quadros para o futuro Ministério – e se algum tucano resolvesse aceitar um convite, disse Aécio, seria por iniciativa pessoal.
Agora, tudo parece ter mudado. “Tínhamos duas opções: lavar as mãos ou ajudar o País a sair da crise”, declarou Aécio. “Vamos dar a nossa contribuição. E seremos julgados pelo que fizermos e pelo que deixarmos de fazer.”
É esse, precisamente, o ponto mais importante: a saída da crise exige dos partidos que demonstrem a grandeza que a presidente Dilma Rousseff e a tigrada lulopetista jamais tiveram, dispondo-se, como manda a boa política, a conciliar seus interesses pelo bem do País.
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