Por Cristiane Agostine - Valor Econômico
SÃO PAULO - O presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), recebeu ontem o aval do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para que o partido participe de uma eventual gestão Michel Temer (PMDB), sem restrições a nomes tucanos. Com isso, está aberto o caminho para que o senador José Serra (SP) assuma um ministério. Segundo uma fonte próxima a Temer, Serra teria sido sondado para a de Relações Exteriores.
Aécio reuniu-se na tarde de ontem por cerca de uma hora e meia com Alckmin, na sede do governo paulista, e saiu do encontro pregando a "absoluta convergência" entre eles e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ao lado do presidente do PSDB, Alckmin recuou e disse que o partido não deve vetar nenhum nome para participar da gestão do PMDB.
"O partido não vai proibir ninguém que queira participar, se for convidado. Vivemos num modelo presidencialista, o presidente monta sua equipe. O partido não vai pleitear cargos, espaço, não vai fazer indicações. Isso é o que eu defendo", afirmou Alckmin à imprensa, no Palácio dos Bandeirantes. O governador descartou a necessidade de o tucano que ingressar na gestão Temer se licenciar do PSDB e disse que essa participação "não tem nada a ver" com a eleição de 2018.
Alckmin era a liderança tucana mais resistente à entrada do PSDB no ministério, sobretudo com a possibilidade de Serra usar sua provável participação no governo Temer para projetar-se nacionalmente e cacifar-se para disputar a Presidência em 2018. Na segunda-feira, o governador havia dito que era contra a nomeação de ministros pelo PSDB para a gestão pemedebista. O próprio presidente do PSDB, até domingo, dizia que a legenda não deveria participar com cargos no governo Temer. Alckmin e Aécio, assim como Serra, são pré-candidatos do PSDB à Presidência em 2018.
A resistência à nomeação de tucanos - especialmente de Serra - para o governo Temer foi reduzida depois que o vice-presidente sinalizou que o senador paulista não iria para a Fazenda, ministério de peso no governo federal. Depois dessa indicação, Fernando Henrique passou a defender nesta semana a participação do PSDB no governo e o discurso foi seguido por Aécio e por lideranças tucanas.
Ontem, antes da reunião com Alckmin, Aécio conversou com Fernando Henrique no apartamento do ex-presidente, em São Paulo, e acertaram como deve ser a participação do PSDB no governo Temer e os termos do acordo que serão levados ao vice-presidente.
O ex-presidente foi à portaria de seu prédio defender, em entrevista à imprensa, que a futura administração federal não pode ter a "cara" de um partido, indicando apoio a uma espécie de gestão compartilhada. "Não será um governo do PSDB. A meu ver não deve ser governo de nenhum partido, não pode ter a cara de um partido. Vou chamar assim: é de emergência nacional. Quem é que vai se negar a ajudar o Brasil em uma emergência?", disse.
FHC afirmou que o PSDB e os quadros do partido "não devem se negar em participar do governo Temer", mas despistou ao dizer que o vice-presidente é quem deve escolher os futuros ministros e não o PSDB. "Os passos iniciais têm que ser de quem vai assumir o poder, se for assumir".
Ao lado de FHC, Aécio voltou a falar que Temer tem se comprometido a não disputar um novo mandato em 2018 e que, dessa forma, o vice-presidente conseguirá mais apoio a seu futuro governo. "Ele próprio tem dito que seu governo é de transição, que ele não tem como objetivo um novo mandato. [Isso] estimula que várias outras forças políticas se juntem a ele".
Em recado indireto a Serra, Aécio disse que a participação de tucanos no governo Temer não pode servir para viabilizar um projeto pessoal de poder. "O PSDB fará o que for necessário para ajudar a tirar o Brasil da crise e não para viabilizar um eventual projeto de poder que tenha", afirmou o senador mineiro. Candidato derrotado à Presidência em 2014, Aécio disse ainda que o PSDB não é o "beneficiário" do impeachment da presidente Dilma Rousseff, apesar de seu partido articular a participação no futuro governo.
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