Thais Arbex – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Um dos principais articuladores do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara dos Deputados e mais fiel aliado do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o deputado Paulinho da Força (SD-SP) assumiu o papel de interlocutor do provável governo Michel Temer (PMDB) com movimentos sociais tradicionalmente ligados ao PT.
Nas últimas semanas, o deputado, que também é presidente da Força Sindical, segunda maior central sindical do país, esteve com Guilherme Boulos, coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto); com José Rainha, ex-líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) e hoje à frente da FNL (Frente Nacional de Luta); e com João Paulo Rodrigues, da direção do MST.
Paulinho contou à Folha que recebeu carta branca de Temer para ouvir as demandas dos movimentos de moradia para o provável governo peemedebista.
Antes de assumir este papel, no entanto, o deputado afirmou ter colocado uma condição ao vice: "Falei para ele que não dá para mexer nos direitos trabalhistas".
"Se ele [Temer] coloca em prática uma medida que não agrada aos trabalhadores, junta todo mundo contra ele. Aí não vai ser só a CUT (Central Única dos Trabalhadores), não. Vai todo mundo para as ruas", diz o deputado.
"Nem vem"
Em outubro do ano passado, quando o PMDB lançou o programa "Uma Ponte para o Futuro", Paulinho da Força pediu um encontro com Temer. Disse ao vice que as propostas ali apresentadas eram "inaceitáveis" e que não teria "nenhuma condição" de apoiar seu eventual governo se elas fossem levadas adiante.
"Briguei com a Dilma no dia seguinte que ela assumiu a Presidência por causa dos R$ 15 que ela não queria dar para os aposentados. Se o seu governo for assim, estou fora", disse Paulinho a Temer.
Um dos trechos do documento do PMDB que mais contraria as centrais sindicais é o que defende a idade mínima para aposentadoria.
"O que Temer precisa agora é de tranquilidade, principalmente na área social", afirma o deputado.
Foi Paulinho quem articulou a reunião de Temer com dirigentes de quatro centrais sindicais –Força Sindical, UGT (União Geral dos Trabalhadores), CSB (Central Sindical Brasileira) e Nova Central Sindical de Trabalhadores–, no início da semana, no Palácio do Jaburu.
"Para ele foi bom porque mostrou que tem interlocução com as centrais, e para nós interessava dizer 'nem vem'.Tínhamos que colocar o pé na porta em relação às reformas que eles imaginam fazer."
Toma lá, dá cá
Embora adote o discurso de intolerância em relação às reformas do provável governo Temer, Paulinho da Força também negocia sua participação na Esplanada.
O deputado quer abrigar seu partido, o Solidariedade, no Ministério do Trabalho. Ele também levou a Temer pedido de José Rainha para indicar a chefia do Incra na eventual gestão do PMDB. O nome apresentado foi o de Luiz Antônio Possas de Carvalho, que assumiu no fim de março a diretoria de Obtenção de Terras e Implantação de Projetos de Assentamento do órgão.
Veja bem
Procurado pela Folha, Guilerme Boulos confirmou a conversa com Paulinho da Força, mas disse que o MTST "não reconhece a legitimidade" de um provável governo Michel Temer.
"Além de um golpe à democracia, é um golpe aos direitos sociais", afirmou.
"Se colocar o tal de 'Uma Ponte para o Futuro' em prática, todos os programas sociais serão destruídos."
João Paulo Rodrigues, do MST, confirmou que esteve com Paulinho em fevereiro, mas disse ter se tratado de uma conversa "institucional entre uma central e um movimento" e que não houve qualquer discussão sobre um eventual governo Temer.
O deputado, segundo o dirigente, "queria informar que retornaria à presidência da Força e queria saber a avaliação do MST sobre a conjuntura política".
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