- Folha de S. Paulo
Por que ler os clássicos? Uma boa razão –bem prática, como o Alckmin gosta– é que, ao fazê-lo, temos a chance de apreender algo com a experiência das gerações que nos antecederam. A literatura clássica, afinal, empacota num "corpus" testado e aprovado pelo tempo a sabedoria do passado.
Se Dilma Rousseff e os petistas de um modo geral estivessem mais atentos aos gregos, talvez não tivessem cometido os erros que agora os colocam à beira do impeachment. A cultura grega era uma cultura da medida e da temperança. "Pán métron áriston" (tudo com moderação é melhor) era um dito muito popular atribuído ao poeta Cleóbulo, não por acaso um dos Sete Sábios.
A perda da moderação é a "hýbris", conceito complexo que admite várias traduções, como "soberba", "orgulho", "excesso", "desmedida". Ela era invariavelmente punida pelos deuses, produzindo histórias que se tornaram algumas das melhores lendas e tragédias da literatura. Vítimas ilustres da "hýbris" incluem Ícaro, Prometeu, Narciso, Édipo.
No caso de Dilma e o PT, os excessos foram calculados. Governantes costumam adotar medidas populistas? Sem dúvida, mas Dilma resolveu fazê-lo numa escala inaudita, na qual era o marketing e não as disponibilidades orçamentárias que definiam o tamanho dos programas. Autoridades do Executivo pedalam? Pedalam, mas a presidente decidiu esmerar-se, transformando uma prática que seus antecessores mantiveram limitada a não mais do que 0,1% do PIB em imodesto 1%.
Candidatos a cargos público mentem em campanhas? Mentem, mas a presidente optou por superar a concorrência e perpetrou o maior estelionato eleitoral da história recente. A corrupção existe desde sempre? Sim, mas há indícios de que baluartes do PT transformaram esquemas de desvio em método administrativo.
A "hýbris" petista foi tamanha que a queda era uma questão de tempo.
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