- Folha de S. Paulo
Devo admitir que, a cada dia, surpreendo-me com a reação de pessoas reconhecidamente inteligentes e bem informadas, em face da crise pela qual passa o país nesta fase do governo de Dilma Rousseff. Não é que não tolere suas opiniões contrárias à minha, e sim os tipos de argumentos que adotam, contrários aos fatos e aos princípios constitucionais que regem a nossa vida política e social. A única explicação para tal atitude só pode ser a necessidade de, fora de toda lógica, insistir na defesa de determinada opção ideológica, seja ela razoável ou não.
Por que digo isso?
Porque o que tem ocorrido, no Brasil, de certo tempo para cá, não deixa dúvida quanto ao procedimento dos dirigentes petistas para, a qualquer custo, se manterem no poder. Tomemos como exemplo o escândalo do mensalão, que envolveu o Estado-maior lulista na compra de deputados do baixo clero. Pode alguém, em sã consciência, acreditar que tudo aquilo foi feito sem que Lula soubesse, quando os autores da falcatrua eram os principais auxiliares dele e no comando do governo?
Estes foram processados e condenados pelo Supremo Tribunal Federal mas a tal esquerda lulista o ignora, como se acreditasse que são inocentes.
Mas tudo bem, o mensalão são águas passadas. E o Petrolão? Segundo os entendidos na matéria, nunca houve, na história brasileira, uma corrupção de tais proporções e, ainda por cima, envolvendo o governo do país e sua maior empresa.
E, veja bem, não foi a oposição ao governo petista que trouxe à tona esse escândalo; foi a Operação Lava Jato, de que participam a Polícia Federal, procuradores do Estado do Paraná e o juiz Sergio Moro, de primeira instância. Graças à sua competência e determinação, além das delações premiadas, o país tomou conhecimento, entre outros escândalos, do assalto à Petrobras, que quase a leva à falência.
O povo brasileiro todo sabe da compra da refinaria de Pasadena, por um preço várias vezes maior que seu valor real; sabe dos orçamentos superfaturados que resultaram em propinas de milhões e milhões de reais dadas aos petistas e seus aliados. Vários dos empresários dessas empreiteiras estão presos e outros já condenados. Todo mundo sabe disso, menos aqueles fiéis seguidores do lulismo e do esquerdismo sagrado.
Essa é a conclusão a que chego, quando os leio ou ouço suas declarações na televisão. Conforme o que dizem, é como se os fatos que todos conhecemos não tivessem acontecido, seriam mentiras inventadas pelos inimigos de Lula, o defensor dos pobres. Não é que o digam explicitamente, não o dizem; apenas os ignoram. É como se nada daquilo houvesse ocorrido, muito embora Marcelo Odebrecht esteja em cana e o mesmo tenha ocorrido com proprietários e ex-presidentes de outras empresas participantes daquelas mesmas falcatruas.
Isso está todos os dias nas páginas dos jornais e no noticiário da televisão, mas, ainda assim, esses nossos amigos fingem ignorá-los. Preferem afirmar, falsamente indignados, que Dilma Rousseff está sendo vítima de um golpe, muito embora saibam que é mentira e que até ministros do STF já se mostraram indignados com tamanho descaramento.
É então que me pergunto como é que pessoas honestas, inteligentes e informadas têm o desplante de ignorar a realidade para, com isso, justificar uma atitude indefensável; claro, não há argumento que justifique o assalto a uma empresa estatal nem o recebimento de propinas para financiar partidos e campanhas eleitorais. A alternativa que lhes resta, portanto, é fazer de contas que não sabem de nada.
Muito bem. No começo desta crônica, usei a expressão "opção ideológica" para definir tal atitude e é isso que distingue estes lulistas dos outros, menos sofisticados. É que, para estes, o PT, liderado por um operário, nasceu como a esperança da verdadeira revolução proletária, com que sonhavam. Sucedeu que, logo logo, o comunismo acabou no mundo inteiro.
Lula, esperto como sempre, optou pelo populismo e, em vez de lutar contra os capitalistas, aliou-se a eles –e daí o Petrolão. Dá para entender: quem acredita que petismo é socialismo não consegue encarar tanta realidade.
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