• CUT destacará discurso de golpe; já a Força, que Temer manterá direitos
Dimitrius Dantas* - O Globo
SÃO PAULO - De um lado do campo, a participação da presidente Dilma Rousseff. Do outro, o deputado Bruno Araújo, responsável pelo 342º voto, o decisivo no processo do afastamento da mandatária, na Câmara. Na comemoração do 1º de Maio, hoje, as maiores centrais sindicais celebrarão o Dia do Trabalho tratando o impeachment com visões antagônicas: enquanto a Força Sindical prepara festa em oposição ao governo federal, a Central Única dos Trabalhadores ( CUT) afia o discurso contra o que chama de golpe.
A CUT anunciou sexta- feira a presença de Dilma. O expresidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou participação no evento da central. Já a direção da Força Sindical não tinha, até sexta-feira, nomes de peso. Líderes da oposição estariam evitando participar de um evento que deve tratar o processo de impeachment mais pelo viés político que jurídico.
6,4 milhões de trabalhadores
O evento da CUT reunirá outras bandeiras, como a da Central de Trabalhadores do Brasil ( CTB), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ( MST) e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Já ao evento da Força se unirão União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) e Nova Central. No total, em ambos os lados, são 6,4 milhões de trabalhadores sindicalizados, quase metade do total, segundo o Ministério do Trabalho.
Enquanto a turma pró-governo se reúne majoritariamente de uniforme vermelho, no Vale do Anhangabaú, no Centro de São Paulo, a menos de três quilômetros dali, na Praça Campo de Bagatelle, a Força Sindical organiza sua festa em clima de comemoração. Como de costume, os eventos da Força são pontuados por sorteios de automóveis. Este ano, serão distribuídos 19 carros.
Para Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, a divisão é retrato da polarização do país:
— A tendência é quem for discursar falar da crise, corrupção, desemprego, mas principalmente, de impeachment.
Alinhada a Michel Temer, a Força Sindical reuniu-se com o vice- presidente na última terça- feira. Juntamente com outras centrais, o grupo entregou um documento ao vice rejeitando a retirada de direitos na reforma da Previdência. O lema do ato do grupo será “Gerar empregos e garantir direitos”.
No documento, os sindicalistas afirmaram que as crises econômica e política são consequência da instabilidade institucional. Na agenda proposta por Força, UGT, CSB e Nova Central está o pedido pela correção da tabela do Imposto de Renda, a valorização da política do salário-mínimo e a manutenção e ampliação dos programas sociais.
No mesmo dia, a Frente Brasil Popular, que reúne CUT e CTB, encontrou- se com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e a presidente Dilma. A Frente exigia do governo a composição de um Ministério com pessoas ligadas aos movimentos que estão nas ruas defendendo a presidente. O grupo também repudiou a ideia de novas eleições gerais.
— Temos que ir até o fim, lutar no Senado até o fim. Se eventualmente não conseguirmos a vitória, não vamos aceitar um governo derivado de um golpe — acusou Raimundo Bonfim, coordenador da Frente.
Na quarta-feira, o ex-ministro da Previdência Roberto Brant, encarregado por Temer de formular políticas para o setor, revelou ao GLOBO a ideia de enviar ao Congresso um plano que define a idade mínima para a aposentadoria em 65 anos para homens e mulheres. Paulinho refutou a hipótese e afirmou que a proposta não vem de Temer.
Em nota, a Força Sindical chamou a proposta de palpite infeliz e “ideia de jerico” do ex-ministro. A central afirmou acreditar que Temer tem toda a força para articular um governo de coalizão e seguir os caminhos acordados com trabalhadores e centrais sindicais.
Ameaça à CLT
Embora também contrário à proposta de mudança na Previdência, Douglas Izzo, presidente da CUT de SP, acredita que, diferentemente de Paulinho, Temer levará a proposta ao Congresso caso assuma o poder. Para hoje, Izzo prometeu críticas fortes ao programa de governo de Temer durante o ato:
— Ele (Temer) propõe o negociado sobre o legislado, rasgando a CLT. É o perigo de mudanças na legislação trabalhista, que vai fragilizar os direitos do trabalhador.
Embora aliado ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, Paulinho disse que a festa da Força não deve contar com a presença do deputado, nem do presidente do PSDB, Aécio Neves. Ambos participaram do ato da Força Sindical no ano passado. O destaque deve ser a presença de Bruno Araújo, deputado pernambucano que deu o voto decisivo no prosseguimento do impeachment na Câmara dos Deputados.
Tirando o teor político, as centrais voltaram a convidar artistas numa estratégia para atrair o público. No ato da Força, as atrações incluem Paula Fernandes, Michel Teló e Gusttavo Lima. Já na CUT, o palanque terá Chico César, Beth Carvalho, Martinho da Vila e o grupo Detonautas. Uma feira gastronômica também foi prometida para o público.
Nos dois atos, são esperadas manifestações do público. Douglas Izzo acredita que bonecos infláveis do governador Geraldo Alckmin, chamados de “Merendão”, devem ser levados ao local, mas nenhum pela própria CUT. A data também será comemorada pela central em outros 22 estados. (* Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire)
Nenhum comentário:
Postar um comentário