segunda-feira, 6 de junho de 2016

Pauta-bomba testa aliança Temer-PSDB

Por Maria Cristina Fernandes - Valor Econômico

SÃO PAULO - Na condição de partido investido da liderança do governo no Senado o PSDB será testado por uma pauta-bomba, que confronta teses do partido em relação ao ajuste fiscal e fragiliza as finanças de Estados governados pela legenda.

Chega esta semana ao Senado o projeto que reajusta servidores, cria cargos e terá um impacto de R$ 7 bilhões este ano e de R$ 52,9 bilhões até 2018. O projeto foi aprovado na Câmara sob o protesto de deputados tucanos como Nelson Marchezan Jr (RS). No Senado, a bancada tucana vê com preocupação para a imagem do partido a associação a projetos que aumentam gastos com funcionalismo num momento em que o país enfrenta uma das maiores taxas de desemprego da história.

O projeto passou no Senado na mesma noite em que o presidente interino Michel Temer recebia, no Jaburu, os dez senadores tucanos - Antonio Anastasia (MG) não foi por ser relator do processo de impeachment - para sagrar a ascensão de Aloysio Nunes Ferreira à liderança do governo. O senador Romero Jucá (PMDB-RR), ex-ministro do Planejamento, passou pelo Jaburu, mas o jantar, além dos tucanos, só contou com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o advogado José Yunes, amigo do presidente em exercício que não tem cargo formal no governo mais é um consultor permanente de Temer.


O presidente interino interrompeu o jantar para receber uma ligação do líder do governo na Câmara, André Moura (PSC), que buscava orientação para a votação do projeto. Ao desligar, Temer relatou aos senadores que havia liberado a votação porque o reajuste seria inferior à inflação. O tema não foi debatido no jantar, mas senadores como Ricardo Ferraço (ES) e José Aníbal (SP) manifestaram reservas ao projeto.

"É muito difícil o Brasil dar certo com corporativismo e clientelismo", diz Aníbal, que também é presidente da fundação do partido e espera do Senado uma correção de rumos no projeto que passou na Câmara. Em rede social, Ferraço, pediu que os eleitores se pronunciassem em vista de o projeto trazer "desdobramentos nos orçamentos dos governos estaduais, que já estão com suas contas no limite".

Aloysio Nunes Ferreira, novo líder do governo no Senado, reconhece a sinuca do PSDB na votação deste projeto. Relembra que a versão original, no governo Dilma Rousseff, tinha um impacto ainda maior, com reajuste de até 70% para o Judiciário, e foi aprovado com o apoio do seu partido, que já rasgara suas convicções com a rejeição ao fator previdenciário, aprovado no governo Fernando Henrique Cardoso.

"No momento em que votei já me arrependi na mesma hora", diz Nunes Ferreira ao recordar a votação do reajuste de servidores, que também teria votos petistas e acabaria vetado pela presidente afastada, Dilma Rousseff. A saída para aquele momento de bombas fiscais foi a manutenção do veto e a negociação de um novo projeto que escalonasse os reajustes e fosse reenviado ao Congresso. Foi este o projeto que foi a voto na semana passada na Câmara e chegará ao Senado esta semana.

"É claro que o projeto impõe um desgaste político, mas temos que analisar seus impactos e considerar o risco que traria uma greve de servidores neste momento", afirma o líder do governo Temer. Nunes Ferreira diz que o projeto vai examinar o projeto de reajustes em função do impacto sobre as finanças estaduais - "Como é que o Senado vai espetar uma conta salgada nas costas dos Estados neste momento?"

Em relação ao aumento de cargos, o novo líder do governo disse que seu partido não teria problemas em rejeitá-lo: "Não dá para aumentar 14 mil cargos numa baciada. Esta vamos matar no peito". Ao desligar o telefone, recebeu uma mensagem do ministro interino do Planejamento, Dyogo de Oliveira, que defendia o projeto aprovado sob o argumento de que não teria havido aumento de cargos, mas remanejamento. Ligou de volta e disse que, face ao posicionamento do ministério, reavaliaria sua posição contrária ao tema.

Como grande parte da bancada do PMDB é citada na Operação Lava-Jato, o PSDB pode se transformar na principal bancada de sustentação do governo no Senado. Só precisa que os inquéritos que correm contra o senador Aécio Neves (MG) não prossigam no Judiciário.

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