segunda-feira, 6 de junho de 2016

Meu delator preferido – Valdo Cruz

- Folha de S. Paulo

Dilma odiava delatores. Sarney, Jucá e Renan foram traídos por um, que passou a ser celebrado pela presidente afastada, mas que pode ser definitivamente impedida pelas revelações do delator-mor.

Quando não passava por sua cabeça ser afastada do cargo, Dilma, atormentada pelas revelações da Lava Jato, tascou em junho de 2015: "Eu não respeito delatores". Até ali, mantinha uma pose de que nada do petrolão chegaria perto dela.

Pois bem, de lá para cá o país foi sacudido por novas e novas delações. É bom dizer, não mostraram a petista enfiando dinheiro no bolso, mas apontaram que sua campanha de 2014 foi irrigada com propina.


Dilma ganhou motivos a mais para odiar delatores, mas esfregou as mãos de felicidade quando pintou na praça a delação de Sérgio Machado, aquele que traiu os amigos peemedebistas Renan, Jucá e Sarney.

A petista passou a ter seu delator preferido. Machado deixou em maus lençóis a turma de Michel Temer e a fez acreditar mais no impossível, voltar ao Palácio do Planalto.

A alegria da petista, porém, durou pouco tempo. Nos últimos dias, começou a vazar o conteúdo das revelações do delator-mor, Marcelo Odebrecht. Tudo indica que a campanha dilmista de 2014 vai ficar de vez encrencada com propina.

Será o argumento final para que até senadores que andavam meio reticentes decidam pelo impeachment final da presidente afastada.

O detalhe é que não deve ser apenas Dilma a cair. A nova safra de delação promete acabar com outras "boas" reputações. Se o mundo da política treme, o país agradece.

Enfim, como diria Dilma Rousseff, que por um instante até gostou de um, delator incomoda e atrapalha muita gente, mas detona principalmente quem tem rabo preso.

Quem não tem, com certeza, não chega a perder uma hora de sono. Só que insônia passou a ser um mal bastante comum nos gabinetes de Brasília. O inimigo mora ao lado.

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