Por Vandson Lima e Thiago Resende - Valor Econômico
BRASÍLIA - O presidente interino Michel Temer monitora de perto as articulações para obter os 54 votos necessários para comandar o Palácio do Planalto em definitivo e aprovar, no Senado, a cassação do mandato da presidente afastada Dilma Rousseff. Para integrantes do PT e aliados, fica cada vez mais claro que, para convencer pela rejeição a Temer e mudar o placar no julgamento final, é necessário articular outra saída: antecipar eleições presidenciais - estratégia que tem funcionado com alguns senadores mas cuja legalidade é questionada.
Em jantar com a bancada do PSDB do Senado e reuniões particulares com tucanos, na semana passada, Temer impressionou convidados e mostrou conhecer no detalhe cada caso de senador que potencialmente poderia mudar o voto. E está certo de ter angariado pelo menos mais três do PMDB em seu favor, em relação aos 55 que votaram pela admissibilidade do processo, que proporcionou o afastamento da presidente em 12 de maio: Jader Barbalho (PA), cujo filho permaneceu ministro - era de Portos com Dilma e passou para Integração Nacional; Eduardo Braga (AM), contemplado com a relatoria-geral do Orçamento de 2017; e João Alberto Souza (MA), presidente do Conselho de Ética do Senado, ligado a José Sarney e ao presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB-AL). Jader e Braga não votaram na fase anterior do impeachment, alegando questões médicas; Souza votou contra a aceitação da denúncia.
Mesmo com as possíveis defecções de Romário (PSB-RJ) e Cristovam Buarque (PPS-DF), que se mostraram decepcionados com os primeiros passos do novo governo, a conta ainda favorece a permanência do pemedebista. Dois novos nomes passaram a integrar a Casa, ambos tendendo a caminhar pró-Temer. O empresário Pedro Chaves (PSC-MS) assumiu a vaga de Delcídio do Amaral, cassado. A senadores conterrâneos já asseverou que é a favor da saída definitiva de Dilma. E Roberto Muniz (PP-BA) ocupará pelo próximo ano a cadeira deixada por Walter Pinheiro (sem partido-BA), nomeado secretário de Educação da Bahia. Seu caso é mais complicado: o PP da Bahia é aliado ao ex-ministro Jaques Wagner (PT) e votou na Câmara contra o impeachment. A cúpula da sigla comandada pelo senador Ciro Nogueira (PI), no entanto, está fechada com o governo Temer. De toda forma, o voto de Muniz no máximo manteria o placar já contabilizado por aliados de Dilma, já que Walter Pinheiro votou contra a admissibilidade do processo.
Braga não foi o único senador que o governo procurou amarrar com um posto de prestígio nas discussões orçamentárias: Wellington Fagundes (MT), líder do PR no Senado, será o relator do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Ele e Braga não irão às urnas este ano, mas são lideranças regionais em seus Estados, para os quais o conhecimento das previsões de gastos do governo em investimentos futuros será fundamental, por exemplo, para municiar os discursos de aliados na disputa municipal.
Os relatores do Orçamento e da LDO têm acesso direto à cúpula do governo, pois precisam manter contato frequente com todos os ministros, em especial da Fazenda, Planejamento e Casa Civil.
O problema que Temer e aliados avistam no momento é, na verdade, de outra ordem. Senadores com voto já declarado pela cassação estão ficando irritados com os privilégios concedidos nas negociações àqueles que ainda precisam ser convencidos. Perceberam que deveriam barganhar também.
Braga, segundo aliados de Temer, negocia ainda cargos com o Palácio do Planalto. "Ele quer fazer indicações, por exemplo, na Eletronorte ", concessionário de serviço público de energia elétrica, contou um senador. Jader também teria suas exigências.
Contra o impeachment de Dilma, PT, PDT, PCdoB e Rede se alinharam, dividiram tarefas e acreditam que, com mais tempo, conseguirão reverter o placar no Senado. Eles contam com a ajuda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o avanço da Operação Lava-Jato sobre o PMDB.
Em grande maioria, esse grupo reconhece que Dilma não teria condição de governar se voltar ao cargo. Por isso, a ideia de antecipar eleições presidenciais. A resistência, porém, começa na própria Dilma, ainda que tenha diminuído, e vai à dificuldade legal em emplacar a mudança.
Varia de seis a oito a lista de senadores que, na avaliação de dilmistas, podem mudar de lado. Nos bastidores, são citados, além de Cristovam Buarque e Romário, Acir Gurgacz (PDT-RO), Ivo Cassol (PP-RO), Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) e Reguffe (sem partido-DF). Todos votaram, em maio, pela abertura do processo de impeachment.
Cristovam e Acir não pouparam críticas ao governo interino, principalmente, após a queda do segundo ministro com a divulgação de conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Os dois fazem parte do modesto grupo de senadores à frente do movimento por novas eleições, cuja ideia principal, por enquanto, é que o Congresso aprove um plebiscito sobre o assunto. Dessa forma, a população decidiria se o pleito seria convocado extraordinariamente.
"Agora [o processo de impeachment] é jurídico, conjunto da obra de Dilma e o conjunto da obra de Temer. Hoje, o sentimento [a favor das eleições] ainda é pelas pesquisas. A população está sussurrando, mas precisa gritar", afirma Cristovam. "Antes estava ruim. Agora está pior", avalia Acir.
As negociações ainda estão em andamento. Senadores, inclusive do PT, têm apresentado a proposta de que Dilma poderia se comprometer em voltar ao Palácio do Planalto apenas para conduzir o processo de consulta popular. "Queremos que ela retorne, mas pode ser que a solução que vai se configurar seja um plebiscito para convocar eleições. Não é o principal por enquanto, mas não está descartado", contou um integrante da bancada do PT no Senado ao descrever as conversas com os "indecisos".
Petistas já defendem que Dilma declare o engajamento na antecipação do pleito. Poderia ser, por exemplo, via uma "carta aberta". Não seria apenas acordo de bastidor com os senadores, defende uma liderança da sigla. Essa é a posição também do PCdoB. "Se ela voltar, não terá como governar porque haveria oposição muito forte no Congresso. Mas nem o Congresso pode barrar o que a população quer", disse a senadora Vanessa Grazziotin (AM).
Reguffe, para um petista, seria o voto mais difícil de mudar, mesmo sendo a favor de novas eleições. "Os dois governos não têm legitimidade. Acho que a população tem que escolher", declara.
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