• Para além dos nomes, cargo embutia função estratégica nos esquemas de financiamento do partido
- O Estado de S. Paulo
Em 2005, a descoberta das ligações entre o então responsável pelas finanças do Partido dos Trabalhadores, Delúbio Soares, e o empresário Marcos Valério deu início ao mensalão, processo que levaria à ruína líderes históricos do PT, como José Dirceu e José Genoino. "Presidente, o Delúbio vai botar uma dinamite na sua cadeira", afirmou naqueles tempos o ex-deputado federal Roberto Jefferson, ao relatar o que diz ter sido uma conversa sua com o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Desde então, a palavra "tesoureiro" passou a provocar calafrios nos dirigentes e militantes do PT. Com a Operação Lava Jato, pesadelos se transformaram em realidade: João Vaccari Neto, que assumiu a tesouraria do PT em 2010, está preso desde 2015 e tem dado sinais de que pode fazer uma delação premiada, considerada pelas autoridades fundamental para montar o quebra-cabeça de drenagem de recursos da Petrobrás para irrigar as contas do PT e de suas campanhas.
A partir de agora, outro ex-tesoureiro se transforma oficialmente em alvo da Lava Jato: Paulo Ferreira. O nome dele já havia sido citado no depoimento do empreiteiro Gérson de Mello Almada à Justiça Federal, em março de 2015. Hoje, ele foi alvo de mais uma nova fase da operação. Ferreira comandou a tesouraria entre 2005 e 2010. Portanto, entre as gestões Delúbio e Vaccari. É visto como a ponte entre o mensalão e o chamado "petrolão", o esquema na Petrobrás.
Antes mesmo da conclusão das investigações e dos veredictos da Justiça, a inclusão definitiva de Ferreira entre os alvos da Lava Jato mostra que, para além dos nomes e dos personagens, o cargo de tesoureiro do PT embutia uma função estratégica num sistema pré-estabelecido pelo partido e suas engrenagens de financiamento. Parafraseando Roberto Jefferson, podemos dizer que a tesouraria do PT sempre foi um paiol de dinamite.
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