sexta-feira, 24 de junho de 2016

Paulo Bernardo e PT se beneficiaram de desvios no Planejamento, diz PF

Bela Megale, Wálter Nunes – Folha de S. Paulo

SÃO  PAULO - O ex-ministro Paulo Bernardo, preso nesta quinta-feira (23), e o PT (Partido dos Trabalhadores) teriam se beneficiado de contratos do Ministério do Planejamento que perduraram de 2010 a 2015, segundo os investigadores da Polícia Federal, Ministério Público Federal de São Paulo e Receita Federal. Cerca de R$ 100 milhões foram desviados na pasta nesse período.

O dinheiro corresponderia a 70% do contrato de R$ 140 milhões que a empresa de tecnologia Consist tinha com o ministério para gerenciamento e controle de créditos consignados para servidores públicos federais.

Desses 70%, o então ministro do Planejamento Paulo Bernardo se beneficiava de 9,5% do montante, disseram os investigadores. O valor teria caído pela metade em 2011, quando ele deixou o ministério, e, em 2012, teria sido reduzido para a margem de 2%.


O dinheiro teria sido usado para pagar pessoais, como salários de dois empregados, aluguel de garagem, loft, entre outros. Quem fazia esses pagamentos era, segundo a PF, o advogado Guilherme Gonçalves, que atuou nas campanha da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher de Bernardo.

Gonçalves, segundo investigadores, também era beneficiário, e é considerado foragido. Ele está em Portugal em uma viagem com a noiva, mas disse que se entregará quando voltar ao país.

"A operação de hoje foi uma resposta àqueles que celebraram com champanhe o declínio do caso de Curitiba (PR). Para mostrar que não é só lá que se faz esse trabalho. É uma meta perseguir a corrupção", afirmou o procurador do Ministério Público Federal em São Paulo Andrey Borges, em coletiva de imprensa.

Esquema
Segundo a PF, a Consist recebia R$ 1 de cada parceira de crédito consignado pago, quando o valor de mercado desse serviço era de R$ 0,30. "Por isso a operação recebeu o nome de Custo Brasil, revelando como a corrupção interfere na vida dos cidadãos", afirmou Fábio Ejchel, superintendente-adjunto da Receita Federal.

O PT, segundo a investigação, também tinha participação ativa no esquema. O ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto definia a distribuição da propina originária do contrato entre Consist e Ministério do Planejamento.

Houve saques em dinheiro e pagamentos a empresas de fachada no intuito de esconder o caminho do dinheiro.

O ex-ministro da previdência Carlos Gabas, alvo de buscas e convidado a prestar depoimento, é investigado porque há indícios de que ele interveio junto a Paulo Bernardo para que a Consist fosse contratada. "Ele participou no início e no final do esquema", afirmou o procurador.

Paulo Ferreira, tesoureiro do PT que antecedeu Vaccari, também é alvo de mandado de prisão por haver a suspeita de que participou da contratação da empresa.

O secretário municipal de São Paulo Valter Correia, que foi detido, teria atuado em uma das secretarias envolvidas no esquema durante a contratação da Consist.

Já o jornalista Leonardo Attuch, conforme investigadores, foi chamado a depor porque recebeu valores da empresa de tecnologia, por indicação de Vaccari, sem prestar serviços.

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