• Governo Temer tem alívio após queda de ministros; petistas voltam ao foco
Cristiane Jungblut, Gabriela Valente e Simone Iglesias - O Globo
BRASÍLIA - Em momento crucial para a definição dos votos dos senadores em relação ao impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, a prisão do ex-ministro Paulo Bernardo causou ontem indignação no PT, que estranhou o fato no momento em que denúncias de corrupção atingiam o governo interino, e foi considerada pelo governo de Michel Temer como a “pá de cal” para as pretensões de volta de Dilma.
Enquanto no Planalto o clima foi de alívio, a nova operação abateu os petistas, pois atingiu indiretamente a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), esposa do ex-ministro preso e linha de frente na defesa de Dilma na comissão do impeachment. O comando do PT e Gleisi atribuem as prisões a uma operação para desviar o foco de delações envolvendo a cúpula do governo Temer, anular a possibilidade de mudança de votos no Senado e de criminalizar o partido.
Isolada no Palácio da Alvorada, onde aguarda o fim de seu julgamento, Dilma sumiu ontem das redes sociais e passou o dia buscando detalhes da prisão para entender os motivos.
No Palácio do Planalto, depois de um evento com embaixadores, Temer evitou responder publicamente perguntas sobre o tema. Internamente, no entanto, a prisão de Paulo Bernardo foi tratada pelos peemedebistas como o episódio que selou o destino de Dilma fora do governo, por colocar o PT novamente no centro do escândalo. No Planalto, temia-se o desgaste sofrido no primeiro mês do governo Temer com a queda de três ministros por causa da Operação Lava-Jato.
Clima de “já ganhou”
No entanto, a prisão de Bernardo e o fato de a Operação Custo Brasil chegar a outros dois importantes aliados de Dilma — o ex-ministro Carlos Gabas (Previdência) e a ex-ministra Tereza Campello (Combate à Fome), com o pedido de detenção de seu marido, o ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira — levam um caso de corrupção para o núcleo mais próximo da presidente afastada. Como as denúncias a Bernardo foram feitas no ano passado, peemedebistas comentaram que a prisão já era esperada.
— Há um clima quase de “já ganhou”— disse uma alta fonte do governo.
Para Dilma, segundo pessoas que estiveram com ela ontem, a reação foi de “estranhamento” diante de uma prisão feita com base em inquérito antigo. Há ainda indignação entre petistas sobre a forma como foi feita a prisão, considerando que desrespeitaram a residência de uma senadora, Gleisi Hoffmann (PT-PR), casada com Paulo Bernardo.
Há preocupação óbvia que o episódio possa enfraquecer o movimento feito para tentar reverter votos no Senado a favor de Dilma no caso do impeachment. Assim que se tornou pública a prisão de Paulo Bernardo, o ex-presidente Lula orientou os senadores petistas a reagir. O ex-ministro José Eduardo Cardozo, advogado de defesa de Dilma, disse que Gleisi deve manter sua participação na comissão e negou que a prisão de Paulo Bernardo possa afetar a atuação da tropa de choque petista.
— Gleisi é uma senadora combativa, competente, séria e acho que vai continuar exercendo o seu papel. É claro que as condições não são as melhores do ponto de vista da realidade, não sei nem por que houve essa decisão, desconheço os termos, mas tenho certeza de que a senadora Gleisi tem muita força interior e saberá enfrentar esse momento — disse José Eduardo Cardozo.
A bancada do PT do Senado divulgou nota em “solidariedade” à senadora e com críticas à operação da Polícia Federal e à prisão de Paulo Bernardo. Na nota, a bancada diz que “estranha” o momento da prisão, justamente durante “o governo provisório” de Michel Temer, e diz que o propósito é “desviar o foco” da corrupção ocorrida com pessoas ligadas ao governo e investigadas na Lava-Jato.
“Operação diversionista”
Também em nota oficial, a Executiva Nacional do PT condenou a “desnecessária” e “midiática” busca e apreensão realizada na sede nacional do partido, em São Paulo.
“Em meio à sucessão de fatos e denúncias envolvendo políticos e empresários acusados de corrupção, monta-se uma operação diversionista na tentativa renovada de criminalizar o PT. A respeito das acusações assacadas contra filiados do partido, é preciso que lhes sejam assegurados o amplo direito de defesa e o princípio da presunção de inocência. O PT, que nada tem a esconder, sempre esteve e está à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos”, diz a nota do PT.
(Colaborou Eduardo Bresciani)
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