• Disputa pela sucessão de Cunha divide aliados
Longe do consenso esperado pelo governo na disputa pela presidência da Câmara, os dois mais fortes grupos de aliados do Planalto aumentaram ontem o tom dos ataques. Na mesma proporção cresceu o temor de racha na base após a eleição, marcada para amanhã à noite. Os deputados Rogério Rosso (PSD-DF) e Rodrigo Maia (DEM-RJ) dividem a base: um é chamado de “candidato de Cunha” e o outro, de “candidato do PT”.
Aumenta tensão na base
• Rosso e Rodrigo Maia, que apoiam governo Temer, se lançam candidatos e trocam farpas
Júnia Gama, Catarina Alencastro, Isabel Braga, Letícia Fernandes e Eduardo Bresciani - O Globo
-BRASÍLIA- Apesar das tentativas do governo de consolidar um nome que una sua base na disputa pela presidência da Câmara, as duas principais alas de aliados do Palácio do Planalto — o centrão e a antiga oposição — intensificaram ontem a troca de ataques, aumentando o risco de um racha que deixe sequelas nesta eleição. De um lado, os apoiadores da candidatura de Rodrigo Maia (DEMRJ) acusaram seu principal rival, o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), de ser “o candidato do Eduardo Cunha”, peemedebista que renunciou ao comando da Câmara quinta-feira, dois meses após ser afastado do cargo pelo Supremo.
Na outra trincheira, os aliados de Rosso tentavam esvaziar a candidatura de Maia classificando-o como “candidato do PT”. Isso porque Maia busca votos no PT, no PDT e no PCdoB. Ontem à noite, a bancada do DEM, em nota, indicou oficialmente o nome de Maia para a disputa.
Os ataques começaram assim que Rosso anunciou sua candidatura, após semanas negando que fosse entrar na disputa. Já com panfletos de campanha em mãos, o líder do PSD negou ser o candidato de Cunha e atacou Maia, que reagiu com críticas ao adversário.
— Cunha não vota. O centrão, que dizem ter sido formado por ele, tem uma série de candidatos. Além de eu não ter votado no Cunha, o conheci só nesta legislatura. Não topo vale-tudo, nunca topei. Não pode um vale-tudo onde se fecha os olhos, se deixa de ser inimigo. Não dá para acreditar nisso — disse Rosso, sem citar nominalmente o rival, que apoiou Cunha na eleição na Câmara ano passado.
— A Casa quer sair do ambiente de beligerância, mas há um grupo que quer continuar mandando na base do atropelo. Não entendo o candidato, que diz que tem mais de 200 votos, entrar agredindo. Não é papel de favorito. É de desesperado. O próximo presidente precisa pacificar a Câmara. A Casa quer alguém que desmonte a equação do centrão — respondeu Maia.
Apesar de os tucanos sinalizarem que apoiarão Maia, a tentativa de colar sua imagem ao PT gerou incômodo, já que seria difícil para o PSDB justificar uma aliança que envolva o tradicional adversário. No final da noite de ontem, porém, os petistas decidiram que não apoiarão Maia no primeiro turno. No entanto, não descartam apoiá-lo no segundo turno, caso ele dispute contra Rosso. O ex-presidente Lula pediu que os petistas não apoiem alguém ligado a Cunha.
Eleição marcada para as 16h de amanhã
Ao menos o temor do governo de que a eleição fique para o segundo semestre foi descartado, após o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), decidir que a escolha do novo presidente da Casa será amanhã, às 16h. Os registros de candidaturas serão aceitos até o meio-dia do mesmo dia, e cada candidato terá dez minutos para discursar. Até ontem à noite, dez candidatos haviam registrado seus nomes.
A briga entre as duas alas da base aliada despertou ainda mais a preocupação do Planalto. Reservadamente, alguns auxiliares do presidente interino, Michel Temer, têm simpatia pela candidatura de Rosso, que já vinha sendo trabalhada, discretamente, há algumas semanas. No entanto, afirmam interlocutores de Temer, o pior para o governo neste momento seria colocar sua digital em alguma das campanhas e sair derrotado.
— Se ele (Rosso) for eleito, será muito bem recebido. Temer não está alheio à disputa, mas também não vai botar o DNA dele em nenhuma candidatura — resume um assessor de Temer.
Domingo à noite, em conversa com integrantes da cúpula do PSDB, Temer externou sua preocupação com um racha na sua base e reafirmou que não vai interferir diretamente na disputa. No cenário atual, com tantos candidatos, sendo a maioria de partidos aliados ao governo, o Planalto trabalha para sair ileso, já tendo em vista que não conseguirá unificar sua base em torno de um nome.
No jantar no Jaburu, Temer ouviu do presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e do líder do partido na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), que há dificuldade entre os tucanos em apoiar a candidatura de Rosso e que a tendência “natural” é o PSDB embarcar com Maia. Na conversa, Aécio voltou a falar da importância de uma aliança entre PSDB e PMDB, e a tentar um acordo de apoio mútuo para 2017, quando o PSDB pretende ter candidato à presidência da Câmara. Mas o encontro no Jaburu terminou sem compromisso algum nesse sentido.
O presidente interino também comentou, insatisfeito, o fato de o PMDB ter cinco pré-candidatos na disputa. Para Temer, isso demonstra falta de unidade dentro de seu próprio partido. Temer disse esperar que, até o dia da eleição, seja diminuído consideravelmente o número de candidatos a partir de entendimentos internos.
No PT, o candidato visto com mais simpatia no primeiro turno é Marcelo Castro (PMDB-PI), ex-ministro da Saúde do governo da presidente afastada, Dilma Rousseff, e que votou contra o impeachment. Ficou definido que os petistas apoiarão deputados que votaram contra o impeachment, ainda que seus partidos tenham encaminhado posição diferente. É o caso de Castro, que não seguiu a posição majoritária do PMDB. Ainda assim, não há definição na bancada sobre que nome será chancelado.
De noite, o PSB decidiu por 18 votos a 14 indicar Julio Delgado (PSB-MG) candidato na disputa. Derrotado, Heráclito Fortes (PSB-PI) deixou claro o nível de tensão que se espalhou pela base:
— Minha candidatura se limitou à geografia da Casa enquanto enfrentava uma estrutura do Palácio perdidamente apaixonada pelo Rosso. Minha candidatura tinha mais capilaridade no plenário. Quando viram me mexer com apoio de Alckmin e do Marconi, foram para o desespero — disse Heráclito, explicando que hoje retirará a candidatura.
Centrão descarta retirar candidaturas
Para dissipar a ideia de que Cunha está por trás da candidatura de Rosso e evitar uma derrota, os líderes dos partidos que compõem o centrão decidiram, em almoço ontem, descartar um movimento de retirada das demais candidaturas do bloco. Para eles, esta será uma eleição com dois turnos; a ideia é levar a candidatura de Rosso para a segunda etapa da disputa e, lá, garantir o apoio da base aliada de Temer.
— Como a gente fala para alguém da nossa base tirar a candidatura? Toda candidatura é legítima. Cabe a cada candidato avaliar sua densidade. No 2º turno, nos juntamos e vamos ganhar. É mais uma prova de que não é verdadeira a tese de que o centrão teria candidatura única — afirmou o líder do PTB, Jovair Arantes (GO).
Além de Rosso, o centrão tem outros já registrados para a disputa, como Fernando Giacobo (PR-PR), Manato (SD-ES), Fausto Pinato (PP-SP) e Carlos Gaguim (PTN-TO). As deputadas Cristiane Brasil (PTB-RJ) e Luiza Erundina (PSOL-SP) também registraram candidatura ontem. Do PMDB, são candidatos Fábio Ramalho (MG) e Marcelo Castro (PI).
Colaborou Renan Xavier, estagiário sob supervisão de Paulo Celso Pereira
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