terça-feira, 12 de julho de 2016

Força-tarefa investiga se ex-diretor do BNDES cobrou propina para o PT

• E-mails para ex-presidente da Andrade Gutierrez provocaram suspeita

Renato Onofre - O Globo

-SÃO PAULO- A Polícia Federal investiga se Guilherme Lacerda, ex-diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ligado ao PT, cobrou propina da Andrade Gutierrez para o partido. Em troca de mensagens achadas no celular de Otávio Azevedo, ex-presidente do grupo, Lacerda apareceu reclamando de repasses não feitos a João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT.

É a primeira vez que um exdiretor do banco aparece como eventual agente na cobrança de propina. Para os investigadores da Lava-Jato, o ex-diretor do BNDES pode ter atuado como representante do PT dentro da instituição, assim como fez o exdiretor da Petrobras Renato Duque, condenado a mais de 40 anos de prisão no esquema de corrupção da estatal.


No dia 22 de setembro de 2012, Lacerda mandou a seguinte mensagem para o executivo: “Otávio, o joao Vac (João Vaccari) me informa hoje que ainda não recebeu para encaminhar. Foi uma surpresa e já criei expectativas em vários lugares. Pf (por favor) veja isso com urgência”.

No mesmo dia, Otávio Azevedo responde: “Guilherme, estou saindo de Londres e chego amanha. Fique tranquilo e mantenha suas promessas. Esta programação foi feita em conjunto com o JVC (Vaccari). Será feito na próxima semana. Abs”. Para os investigadores da Lava-Jato, Lacerda teria cobrado de Azevedo possíveis doações ou propinas devidas pela Andrade ao PT.

Lacerda chegou à Diretoria de Infraestrutura Social, Meio Ambiente, Agropecuária e Inclusão Social do BNDES na vaga deixada por Elvio Lima Gaspar. Antes de assumir, foi durante nove anos ex-presidente da Funcef, o fundo de pensão da Caixa, e era ligado aos ex-ministros petistas Luiz Gushiken e José Dirceu. Em 2010, tentou se eleger deputado federal pelo Espírito Santo, mas não conseguiu.

Ele também integrou o grupo de economistas que preparou o plano de governo do ex-presidente Lula nas campanhas de 1989 e 1994, e, em 2002, foi o coordenador-geral da campanha de Lula no ES. “PRECISO REALMENTE FALAR” Lacerda foi nomeado pela presidente afastada, Dilma Rousseff, em 6 de fevereiro de 2012. Quatro dias após assumir, no dia 10 de fevereiro, ele mandou uma mensagem pedindo para falar com urgência com o então executivo da Andrade:

“Otávio, já to enfrentando ps (problema). Pepinos lá da diretoria. Assumi e vc n (nem) tchan, heim? Mas brincadeiras a parte preciso ouvi-lo sobre (a) pendência (do) estádio internacional. Retorne me qdo (quando) puder g lacerda”. Quatro dias depois, Lacerda cobra: “Preciso realmente falar com você!”.

As mensagens foram encontradas em um dos aparelhos apreendidos com Otávio Azevedo em junho do ano passado, quando ele foi preso na 14ª fase da Lava-Jato. Nas conversas, algumas de 2012, são flagrados políticos, conselheiros de agências reguladoras e empreiteiros.

A interceptação reforça as investigações sobre o pagamento de propina em contratos de empréstimos do BNDES. O próprio Azevedo disse em delação que pagou 1% de propina sobre valores financiados pelo BNDES em obra da empreiteira Andrade Gutierrez na Venezuela.

Em nota, o BNDES não comentou a troca de mensagens. Disse que nenhum diretor tem atribuições ou poder de aprovar isoladamente financiamentos a projetos. “Após aprovação e contratação da operação, os desembolsos são feitos, exclusivamente, frente à comprovação via notas fiscais e à evolução física dos projetos”, afirmou a nota. A Andrade disse que “mantém compromisso de colaborar com a Justiça”.

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