• Azevedo confirma pressão de assessor de Dilma por verba para campanha de 2014
Cleide Carvalho, Dimitrius Dantas e Thiago Herdy - O Globo
-SÃO PAULO- Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da holding Andrade Gutierrez, afirmou ontem, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba, que a propina era contabilizada dentro da empresa como “custo comercial”, e incluída no orçamento de cada obra, assim como o bônus pago aos executivos. Moro se surpreendeu e perguntou: — É tão natural assim? O executivo explicou:
— O pessoal da construtora vê como um custo comercial qualquer. Vê como impacta o resultado e se impacta o bônus do próprio executivo — disse Azevedo, explicando que a propina era encarada como “numa tragédia” apenas quando era pedida pelas autoridades já durante o andamento da obra, o que impactava na remuneração variável dos executivos.
Pressão do assessor de Dilma
Azevedo, que fechou delação, disse que o acordo de pagar 1% do valor das obras federais para o PT vigorou de 2008 a 2014, mas que, no último ano, os pagamentos eram residuais. Ele calcula que a “verba vinculada”, como se referia aos pagamentos, somaram R$ 40 milhões — R$ 30 milhões referentes à Petrobras, e R$ 10 milhões à usina de Belo Monte. No total, a empresa doou ao PT cerca de R$ 90 milhões no período.
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Azevedo afirmou que 99% da propina foram pagas para o partido, não para campanhas eleitorais. Disse ainda que, em 2014, foi fortemente cobrado por Edinho Silva, então tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff, e Giles Azevedo, que foi secretário pessoal da presidente.
O executivo disse que os dois sabiam que o PT recebia dinheiro “vinculado”. Giles ligou para um dos executivos do grupo cobrando mais doações e disse que a empresa não podia “fazer isso com Dilma”. Foi marcada uma reunião com Edinho Silva e João Vaccari Neto, então tesoureiro do PT, em São Paulo.
— Tínhamos feito R$ 15 milhões de doações para o PT. Tinha a parte vinculada que, se eu não fosse obrigado, eu não tinha feito, tinha feito para a Dilma — disse Azevedo, acrescentando que deixou isso claro para os dois, e também num segundo encontro, dessa vez com a participação de Giles. — Falei a mesma coisa sobre as doações vinculadas. Falei de Belo Monte com clareza e outros projetos federais em que temos obrigação de contribuir.
Azevedo disse ter se incomodado com a cobrança. Mesmo depois que Dilma foi reeleita, Edinho Silva voltou a ligar para cobrar mais contribuições, que não foram pagas. A Andrade Gutierrez era vista no PT, segundo ele, como má pagadora, o que gerava reação de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT. Segundo o executivo, Vaccari era o responsável por receber o dinheiro de Belo Monte. Nesse caso, o 1% de propina era dividido entre PT e PMDB.
Azevedo confirmou ter pagado R$ 6 milhões por serviços não prestados à agência Pepper, que atuou na campanha de Dilma em 2010, mas disse que não era propina relativa ao esquema na Petrobras.
— Não houve prestação de serviço. E eu acho que não teve relação com os pagamentos da Petrobras — afirmou.
Mudança de opinião
Azevedo disse que a contribuição ao PT não era vista de “maneira criminalizada”, mas como contribuição espontânea. Agora, mudou de opinião:
— Vendo sob a ótica correta da exigência de uma contribuição, é obvio que não é correto. Quando passamos a analisar a questão moral do processo, vimos que erramos. A empresa viu que errou.
Azevedo não confirmou as afirmações de dois outros delatores da Lava-Jato, o lobista Fernando Soares, o Baiano, e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Baiano havia dito ter ido ao prédio da construtora receber R$ 1,5 milhão em propina de caixa 2, que seria destinada ao PP. Costa confirmou ter feito o pedido. Azevedo disse que havia recusado o pedido, e que não encontrou registros desse pagamento. Ele confirmou que Baiano esteve no prédio da construtora.
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