“Em sua forma mais difundida de superstição economicista, a filosofia da práxis perde uma grande parte de sua expansividade cultural na esfera superior do grupo intelectual, na mesma proporção em que a adquire entre as massas populares e entre os intelectuais medíocres, que não pretendem cansar o cérebro, mas desejam aparecer como espertíssimos, etc. Como disse Engels, é cômodo para muitos acreditar que possam ter no bolso, a baixo preço e sem nenhum esforço, toda a história e toda a sabedoria política e filosófica concentrada numa formulazinha. Por se ter esquecido de que a tese segundo a qual os homens adquirem consciência dos conflitos fundamentais no terreno das ideologias não é de caráter psicológico ou moralista, mas sim de caráter orgânico gnosiológico, ciou-se a forma mentis de considerar a política e, portanto, a história como um contínuo marché de dupes, um jogo de ilusionismo e de prestidigitação. A atividade ”crítica” reduziu-se a revelar truques a provocar escândalos a especular sobre os salários dos homens representativos.
Esqueceu-se assim que, se o” economicismo” é ou presume ser também um cânone objetivo de interpretação (objetivo-científico), a pesquisa no senti dos interesses imediatos deveria ser válida para todos os aspectos da história, tanto para os homens que representam a “tese” como para aqueles que representam a “antítese”. Ignorou-se, além disso, uma outra proposição da filosofia da práxis: a de que as “crenças populares” ou as crenças do tipo das crenças populares têm a validade do tipo das forças materiais.”
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Antonio Gramsci (1891-1937), Cadernos do Cárcere, v. 3. pp.52-3. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2007.
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