Por Andrea Jubé, Bruno Peres e Fernando Exman – Valor Econômico
BRASÍLIA - O presidente Michel Temer continua a buscar nomes para a função de porta-voz. Temer quer criar o cargo dentro da nova estratégia de comunicação que o governo adotará, a fim de alinhar o posicionamento dos diversos órgãos do Executivo, criar uma identidade para a administração federal e reduzir as chances de o governo se envolver em crises que desgastem o presidente.
Ontem, Temer discutiu o assunto em reunião com o jornalista Eduardo Oinegue, que apresentou um plano ao presidente com a figura de um porta-voz atuante. Em princípio, o nome do consultor foi cogitado para o posto, o que não será levado adiante. Segundo apurou o Valor, Oinegue não quis ser porta-voz, mas deve manter-se como um interlocutor de Temer e seus auxiliares para discutir a estratégia de comunicação do Planalto. A operacionalização do plano ficará sob a responsabilidade da Secretaria de Comunicação da Presidência da República.
A intenção do governo é nomear para o cargo de porta-voz alguém do Itamaraty que consiga dar as diretrizes do posicionamento do governo sobre os diferentes temas em pauta, as quais passariam a nortear o posicionamento das demais autoridades do Executivo. Na avaliação de fontes do Palácio do Planalto, muitos ministros com origem no Congresso ainda se comunicam como se fossem parlamentares, muitas vezes de forma polêmica, visando suas bases eleitorais e partidárias.
A Comunicação Social entrou no rol de prioridades de Temer, depois da sucessão de ruídos entre ministros e aliados no governo. Agora, o objetivo é colocar a comunicação no centro das decisões governamentais.
Os últimos episódios de atritos envolveram Temer e o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, indicado pelo PTB.
O Valor apurou que Temer pediu ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que o ajude a encontrar um profissional para a função de porta-voz, e ressaltou que, preferencialmente, deveria ser uma mulher.
Na semana passada, Temer convidou a diplomata Tatiana Rosito, que é secretária-executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligada à equipe do ministro das Relações Exteriores, José Serra. Um ministro confirmou ao Valor que Tatiana foi convidada, mas recusou porque havia acabado de assumir a Camex e de formar uma equipe de 20 pessoas para auxiliá-la.
O porta-voz ficará subordinado ao secretário Márcio de Freitas, que acompanha Temer há 17 anos. Pouco antes do impeachment, houve um desentendimento entre ambos, devido a uma série de entrevistas que Temer decidiu conceder para veículos internacionais. Freitas pediu para sair, mas a crise não durou nem dois dias. Em menos de 48 horas, Temer pediu para Freitas reconsiderar o pedido de demissão.
Uma fonte do Palácio do Planalto disse ao Valor que é urgente resolver o problema da comunicação, para que não seja preciso, por exemplo, divulgar notas oficiais para desmentir até mesmo ministros da própria Casa. Há uma semana, o Planalto teve que divulgar uma nota retificando uma declaração do ministro da articulação política, Geddel Vieira Lima, aos líderes partidários, de que a reforma da Previdência Social não seria encaminhada ao Congresso antes das eleições. A sucessão de problemas levou Temer a cancelar a viagem que faria na segunda-feira a Cartagena das Índias, na Colômbia, onde participaria da assinatura do acordo de paz com as Forçar Armadas Revolucionárias (Farc). Temer também cancelou a viagem porque uma de suas prioridades, na próxima semana, será finalizar o texto da reforma da Previdência com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Ontem o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), divulgou uma nota oficial de apoio ao ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, indicado pela bancada de deputados federais. Jovair, um dos principais líderes do Centrão, repudiou declaração de Rodrigo Maia sobre a atuação de Nogueira, afirmando que a reforma trabalhista só seria discutida em 2017.
Nos bastidores, auxiliares presidenciais já afirmavam que a reforma trabalhista era uma pauta somente para 2017. Mas Jovair criticou Maia: "A liderança do PTB na Câmara dos Deputados ressalta, novamente, que o momento é de reunificação do Brasil, de necessidade de pacificação das relações políticas e de urgente recuperação econômica. Causou espanto a inoportuna declaração do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que ontem, no exercício da Presidência da República, criticou o ministro de estado do Trabalho, Ronaldo Nogueira, ao comentar que a Reforma Trabalhista ficará para 2017."
Em Nova York, Temer foi obrigado a desautorizar o ministro Geddel Vieira Lima, nas declarações sobre o caixa dois. Ressalvou que foi uma opinião "personalíssima" do ministro da articulação política, "que não envolvia nem a opinião do governo e, evidentemente, não envolvia a minha". Acrescentou que "não é bom para ninguém" a proposta de anistia a políticos envolvidos com caixa dois que a Câmara tentou votar.
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