Thaís Bilenky, Joana Cunha – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Milhares de pessoas se reúnem para protestar contra a corrupção na avenida Paulista neste domingo (4). A maioria está vestida de verde ou amarelo, e muitos levam cartazes e gritam pedindo "Fora Renan", em referência ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB).
Segundo o MBL (Movimento Brasil Livre), um dos grupos que convocaram o ato, estiveram presentes 200 mil pessoas. A Polícia Militar falou em 15 mil pessoas. O ato, que começou a reunir manifestantes por volta das 14h30, foi encerrado pouco depois das 19h, quando a Paulista foi reaberta ao trânsito de carros.
Em discurso no carro do MBL, um dos líderes do grupo, Fernando Holiday afirmou que o protesto é independente de partidos.
"Pode ser PSDB, PMDB, PT, o povo se cansou", disse Holiday, que se elegeu vereador em São Paulo pelo DEM, em outubro, e toma posse no mês que vem.
"Eles pensaram que a gente ia voltar para casa. Mas vamos voltar às ruas até eles tomarem vergonha na cara". O MBL mantém interlocução com Temer desde a posse, em maio.
Além de Renan, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi alvo. Holiday avaliou como "coisa de canalha" o modo como o parlamentar conduziu a votação do pacote contra a corrupção. "Tenho vergonha que ele faça parte do mesmo partido político que eu", afirmou.
Rogerio Chequer, organizador do Vem Pra Rua, outro grupo que convocou o ato deste domingo pelas redes sociais, disse que "ninguém está poupando o Temer".
Chequer citou o episódio da saída do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, em que, na sua avaliação, o presidente demorou para agir, mas perguntou: "Além disso, quais são as outras coisas que devem ser criticadas? Eu não sei".
"Não tem justificativa para 'Fora, Temer', ainda", afirmou. Para ele, a demora no envio de reformas estruturais, as quais apoia, deve-se mais ao Congresso, que chantageia o Executivo.
Chequer pediu vaias também a Rodrigo Maia (DEM-RJ), dizendo que o presidente da Câmara pediu pressa na votação das emendas ao pacote contra corrupção durante a madrugada de quarta-feira (30).
Muitos cartazes e falas em carros de som depositam no Judiciário esperança para conduzir o combate à corrupção.
O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), potencial candidato a presidente em 2018, foi tietado pelo público, mas também enfrentou protestos. "Político, não!", alguns gritaram, enquanto ele fazia selfies.
"Traidor da pátria. Ronaldo Caiado votou a favor da anistia", gritou uma mulher no carro de um grupo que pede intervenção militar no país.
Uma mulher de 26 anos que foi tomar sorvete na Paulista afirmou que foi empurrada porque andava de mãos dadas com a namorada. "A gente foi constrangida, 'ah, casalzinho de esquerda', falaram", ela disse, sem querer se identificar.
"Foi homofobia. Fascismo."
POLÍCIA E EVANGÉLICOS
Quando um helicóptero da Polícia Militar sobrevoou o ato, os manifestantes fizeram uma salva de palmas.
Um grupo levou à Paulista um boneco gigante do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) algemado, com os dizeres "Partido Canalheiro" e o logotipo de algumas legendas do país, como PSDB e DEM –ambas da base do governo Temer–, mas também do PMDB, partido do senador.
Assim como nos protestos a favor do impeachment de Dilma, apoiadores da volta dos militares ao poder marcaram presença. Eles cantaram o Hino Nacional vestidos com fardas e segurando cartazes que pedem intervenção.
Em outro ponto da avenida, um fiel da igreja evangélica Sara Nossa Terra afirmou que "Deus não abençoa uma nação corrupta". "Pedimos uma intervenção divina, que Deus coloque a mão no Congresso", completou.
Grupos vieram com cartazes contra o aborto.
O fundador do movimento Quero um Brasil Ético, o ex-delegado e professor de direito Luiz Flavio Gomes, respondeu a perguntas de manifestantes sobre a possibilidade de uma intervenção "civil".
"Tem de achar uma saída pela Constituição, dentro do [artigo] 142, que diz que só se decreta estado de sítio se o país está em comoção social", respondeu, negando que haja "clima" para isso "ainda".
"Temer dá mostras de que não está disposto a combater a corrupção, por exemplo ao não demitir de imediato o [ex-ministro] Geddel [Vieira Lima]."
Mais cedo, protestos foram realizados em ao menos oito Estados –São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Alagoas, Pará e Amazonas–, além do Distrito Federal.
BERÇO ESPLÊNDIDO
O advogado André Rafael Veríssimo, 33, que faz bico de artista levando "instalações" às manifestações na avenida Paulista, foi ao protesto deste domingo com sua cama.
Colocou-a em frente ao Masp, ao pé do carro do movimento Vem Pra Rua, e afixou nela um cartaz que diz: "Deitado eternamente em berço e$plendido, somente os nossos políticos".
Espalhou notas falsas sobre o colchão e se deitou para fazer selfies com manifestantes. As "instalações" de Veríssimo, sempre críticas ao Congresso, já ilustraram o noticiário de protestos anteriores.
Em um dos atos contra Temer, em setembro, o advogado se vestiu como um trabalhador acorrentado que carregava nas costas um Congresso de isopor. Antes do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o figurino foi de um Cristo em cuja cruz pesava uma Câmara e um Senado.
APOIO DE MORO
Na tarde deste domingo, a página do Facebook mantida pela mulher de Moro, Rosângela Moro, compartilhou uma mensagem em apoio às manifestações.
A publicação, originalmente feita pela página "República de Curitiba", usa fotos do juiz e do procurador Deltan Dallagnol para pedir participação nos atos deste domingo.
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