• Petista deixa legado civilizatório para a cidade de São Paulo, mas, em meio a conjuntura desfavorável, sua gestão decepcionou
Fernando Haddad (PT) encerra seu mandato na Prefeitura de São Paulo tendo como marcas mais visíveis as diversas intervenções no campo da mobilidade urbana.
Os 400 km de ciclovias, os 423 km de faixas de ônibus e a redução da velocidade máxima em cerca de 220 vias são iniciativas que já parecem devidamente incorporadas ao cotidiano da capital.
Integram, por assim dizer, uma agenda civilizacional que Haddad encampou, a despeito da resistência de parcelas razoáveis da população. Em conjunto, as medidas priorizam o transporte coletivo e devolvem certa humanidade a uma metrópole que vinha se tornando cada vez mais hostil aos cidadãos.
A essa preocupação com a retomada dos espaços públicos se opõe, quase em contradição, o desmazelo com a zeladoria. Não surpreende que entre as principais reclamações recebidas pela ouvidoria estejam os serviços de jardinagem, tapa-buracos e limpeza.
Com menos visibilidade e maior relevância em termos administrativos, o papel na renegociação da dívida paulistana com a União e a implantação bem-sucedida da controladoria municipal são duas realizações que Haddad, com razão, faz questão de destacar.
No primeiro caso, o saldo devedor da cidade caiu de R$ 76 bilhões para menos de R$ 30 bilhões. No segundo, o órgão de combate à corrupção ajudou a recuperar mais de R$ 600 milhões desviados.
Apesar desses importantes legados, Haddad ficou longe de cumprir seu plano de metas. Com base nos critérios da prefeitura, concluiu 54,5% das 123 propostas.
Dos 20 CEUs prometidos, por exemplo, somente 1 foi entregue (14 estão em construção); das 43 novas unidades básicas de saúde (UBS), a população recebeu 12 e aguarda o fim das obras em outras 15; abriram-se 100 mil vagas de educação infantil, não 150 mil; ergueram-se 45 creches (e 53 estão em andamento), não 243.
Mesmo na mobilidade alguns objetivos ficaram pelo caminho: construíram-se 42 km de corredores de ônibus, e não 150 km -um deficit que não pode ser suprido pelo superavit de faixas, pois estas constituem antes um paliativo de baixo custo do que uma solução.
Reconheça-se que Haddad enfrentou conjuntura especialmente adversa. Os protestos de junho de 2013 custaram popularidade ao prefeito e receitas à prefeitura, que precisou bancar o congelamento das tarifas de ônibus. Mais decisiva, a crise econômica gestada pelo governo Dilma Rousseff (PT) impediu a execução de repasses federais.
Além disso, o descalabro ético do PT contaminou a candidatura de Haddad, circunstância que ajuda a explicar seu fiasco eleitoral -obteve apenas 16,7% dos votos.
São algumas explicações, sem dúvida, mas elas se debilitam diante das necessidades da maior metrópole brasileira. Em termos de eficiência do serviço público e de atenção à periferia, a população decerto esperava muito mais.
Passados quatro anos, Fernando Haddad não deixa de ser considerado um político sério; nestes tempos de Lava Jato, não é pouco para um homem público, mas não bastou para São Paulo.
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