O presidente Michel Temer (PMDB) parece ter bons motivos para se preocupar com as delações premiadas negociadas entre ex-funcionários da Odebrecht e os investigadores da Operação Lava Jato.
Pelo menos dois desses colaboradores já associaram Temer a verdadeiro toma lá, dá cá com a empresa —e mal se começa a conhecer o conteúdo de todos os 77 relatos.
No caso noticiado mais recentemente, um ex-executivo da Odebrecht contou seu encontro com um lobista do PMDB, com o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e com o próprio Temer, então presidente do partido, no escritório deste último em São Paulo.
Estariam em jogo contratos da Odebrecht Engenharia Industrial com a área de negócios internacionais da Petrobras, tendo como contrapartida doações para a campanha eleitoral do PMDB em 2010.
Um desses contratos, no valor de US$ 1 bilhão, foi fechado às vésperas do segundo turno presidencial daquele ano.
O teor da delação —que, cumpre dizer, ainda depende de comprovação— coincide, decerto não por obra do acaso, com uma das muitas questões apresentadas por Cunha ao juiz federal Sergio Moro, quando arrolou Temer como testemunha de sua defesa.
O longo questionário —rejeitado pelo juiz com o justificado fundamento de que, envolvendo o presidente da República, seria da alçada do Supremo Tribunal Federal— parece orientar os investigadores na tomada de depoimentos.
Com efeito, originou-se de outra pergunta de Cunha o foco de suspeitas a incidir sobre José Yunes, amigo e agora ex-assessor especial de Temer na Presidência.
Objeto de delação segundo a qual teria recebido dinheiro vivo da Odebrecht em seu escritório, Yunes engrossa a lista das pessoas de estrita confiança de Temer a se demitirem do governo.
O caso imediatamente anterior, do ex-ministro Geddel Vieira Lima, recua no passado, enquanto se abre novo horizonte de inquietações com o processo a respeito de irregularidades na chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, em curso no Tribunal Superior Eleitoral.
O processo, que tende a ser decidido pelo plenário do TSE em meados do primeiro semestre de 2017, contém a possibilidade de afastar Temer do Poder Executivo, com a subsequente eleição indireta de um substituto para seu cargo.
Possibilidade que, a muitos títulos, cabe qualificar de remota. Tudo depende de que novos e largos passos na crise política e na deterioração do quadro econômico levem o Planalto a uma situação insustentável. A despeito de sua popularidade em baixa, Temer ainda desfruta de apoio vasto no Congresso.
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