Por Vandson Lima | Valor Econômico
BRASÍLIA - A orientação da direção nacional do PT para que seus deputados e senadores apoiem as candidaturas de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Eunício Oliveira (PMDB-CE) para presidir as duas Casas do Legislativo promete agravar o racha já existente na sigla.
Atual líder da oposição no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ) vai encampar um levante contra o acordo. "Vamos trabalhar fortemente, de baixo para cima, para reverter a decisão. Vai ter uma petição online e faremos atos em capitais para influenciar os deputados e senadores até as eleições no Congresso" conta.
Em reunião do Diretório Nacional com a presença do ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva, em São Paulo, os dirigentes petistas derrotaram por 45 votos a 30 a tese de apoio a um candidato de oposição na eleição das mesas.
Na reunião desta sexta-feira, o partido definiu também a data do Congresso petista, que será realizado entre os dias 1 e 3 de junho. O evento, inicialmente previsto para abril, deve se tranformar em um ato de lançamento da sexta candidatura presidencial de Lula.
Dividido entre garantir espaços no parlamento, à custa de um acordo com partidos que atuaram para retirá-lo do governo com o impeachment de Dilma Rousseff, ou arriscar perder importância no Congresso Nacional, mas manter a coerência de discurso junto à militância, o PT optou pelo pragmatismo.
Eleitos na enorme onda de popularidade de Lula em 2010 - a mesma que levou Dilma ao comando do Palácio do Planalto -, oito dos 10 senadores do PT terão de voltar às urnas em 2018 (o mandato de senador é de oito anos). Este é um fator que pesa no cálculo que os petistas fazem sobre seu posicionamento no Congresso Nacional em 2017.
"Estamos num processo em que querem nos isolar no Congresso. O PT precisa ter acesso aos espaços de poder. Se apoiarmos uma candidatura alternativa, você abre mão dos espaços proporcionalmente", alerta o senador Paulo Rocha (PA), considerado um dos parlamentares mais próximos de Lula.
Apenas ele e a senadora Fátima Bezerra (RN), eleitos em 2014, não precisarão ir às urnas em 2018 para disputar mais uma legislatura.
No Senado, o PT já sabe que ficará menor este ano: com as saídas de Delcídio Amaral (MS) e Walter Pinheiro (BA), a sigla caiu de segunda para terceira força da Casa, atrás de PMDB e PSDB. Com isso, perderá o comando da poderosa Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e da Comissão de Direitos Humanos. Caso consolide o apoio a Eunício, tem a promessa de estar à frente da Comissão de Assuntos Sociais (CAS), onde poderia fazer barulho contra as reformas da previdência e trabalhista, e da primeira-secretaria, espécie de prefeitura do Senado, com muitos cargos para distribuir a aliados que foram desalojados da máquina federal por conta do impeachment.
Lindbergh, no entanto, considera que o preço é alto demais e pode ter efeito reverso do desejado: ao garantir tais espaços, o PT perde conexão com a rua - o que, em última instância, pode levar a uma debandada dos apoios que ainda lhe restam e resultar em um desastre ainda maior nas urnas.
Para Lindbergh, "o estrago que vai causar na nossa base não vale o espaço na Mesa. Você não encontra um militante que apoie essa articulação", diz.
Lindbergh lembra a expressão "cretinismo parlamentar", utilizada por Karl Marx, para alertar ao que considera um erro do PT, de superestimar a atividade parlamentar em detrimento da luta política nas ruas. "Vamos perder comissões, espaços na Mesa? Não importa. Partido sobrevive da sua vitalidade. Como explicar a um jovem, que está na universidade, pensando em se filiar ao PT, que agora vamos apoiar Maia e Eunício, cabeças de partidos que nos deram um golpe há menos de um ano?", conclui. (Colaborou Cristiane Agostine, de São Paulo)
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