A ancoragem das expectativas de inflação e o recuo dos índices de preços criaram, enfim, as condições para o Banco Central (BC) acelerar os cortes dos juros, cuidando um pouco mais da atividade econômica. Esse é um alento em meio à maior recessão da história econômica do Brasil, mas a queda dos juros, por si só, não resolve as mazelas do baixo crescimento do país.
O máximo que um banco central pode fazer pelo crescimento é suavizar a flutuação do Produto Interno Bruto (PIB) em torno de sua tendência de longo prazo. Para a economia se expandir de forma sustentada a taxas mais expressivas, não há mágica. As alternativas ao alcance do governo são aumentar o estoque de capital, por meio de um ambiente mais favorável para os investimentos, e ampliar a produtividade.
As projeções dos economistas de instituições privadas para de crescimento do PIB no longo prazo, entre 2019 e 2020, estão em 2,5%, segundo o Boletim Focus do BC. Essa é uma espécie de consenso do mercado sobre o chamado crescimento potencial, ou seja, a taxa de expansão do PIB que não gera desequilíbrios, como aceleração da inflação.
As visões mais pessimistas do Focus apontam uma expansão possível na casa de 1%. Os economistas mais otimistas consultados na pesquisa Focus acham que a economia poderá crescer 4% de forma sustentada.
A área econômica do governo acaba de concluir um estudo, conforme noticiou a colunista do Valor Claudia Safatle, que estima em 3,8% a velocidade sustentada de expansão da atividade econômica.
O PIB potencial é o que os economistas chamam de variável não observada, ou seja, não representa uma grandeza que pode ser medida concretamente. As hipóteses usadas pelos especialistas para estimá-lo, porém, são um bom guia dos desafios que o país terá que enfrentar nos próximos anos para que, de fato, a sociedade possa se beneficiar de um maior crescimento econômico e da prosperidade que ele produz.
A área econômica do governo estima o PIB potencial com dados a partir do Plano Real, editado em 1994, já que antes disso a inflação muito alta distorcia as estatísticas. A taxa média de expansão anual observada no período foi de 3,3%, o que pode ser entendido como a tendência sustentada de crescimento.
Nesse período de mais de duas décadas, entretanto, a economia cresceu mais devido à entrada de mais pessoas no mercado de trabalho. Daqui por diante, não se pode contar com esse bônus demográfico. O espetacular crescimento da China, e sua demanda insaciável por commodities, foi outro fator que puxou a economia brasileira. Não se antecipa nada parecido no futuro.
Feitos os ajustes para esses dois fatores, chega-se a um potencial de crescimento de cerca de 2,3%, nas contas da área econômica. Essa é uma estimativa que se baseia apenas em dados estatísticos passados. Grosso modo, coincide com a visão mediana do mercado, que vê um PIB potencial de 2,5%.
Se vai crescer mais ou menos do que isso nos próximos dez anos, dependerá das hipóteses para o futuro sobre produtividade e a performance decorrente dos investimentos adotadas por cada analista. Caso o investimento não se recupere, até mesmo a projeção de um PIB potencial de 1% poderá ser frustrada.
A área econômica aposta que a aprovação da PEC do teto do gasto, que congela a despesa em termos reais por 20 anos, vai dar um impulso à produtividade. A esperada queda da despesa pública abrirá espaço no PIB para o setor privado, que é mais produtivo e mais eficiente. Só esse fator, nas contas dos técnicos do governo, repõe 0,75 ponto percentual do PIB que era subtraído pelo setor público. O novo impulso ao investimento privado acrescenta outro 0,75 ponto.
Pode-se discutir se há excesso de otimismo nas contas do governo, mas o diagnóstico geral parece correto. O ajuste fiscal é pré-requisito para trazer os investimentos de volta. Outras reformas, como a trabalhista e as microeconômicas, e o trabalho árduo para melhorar educação - que leva décadas para ter resultados - são essenciais para aumentar a produtividade.
Hoje, as reformas estão bem encaminhadas, mas ainda incompletas, como na área da Previdência Social, sem a qual a PEC do teto tende a virar letra morta. Será preciso perseverar para garantir uma expansão mais forte da economia.
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