Milton Schahin pode esclarecer se houve empréstimo de R$ 60 milhões ao PT
Gustavo Schmitt e Cleide Carvalho | O Globo
-SÃO PAULO- Milton Schahin, um dos sócios do grupo Schahin, fechou acordo delação premiada com a força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba. O empresário se comprometeu a pagar uma multa de R$ 7 milhões — com carência de seis meses para início de desembolso. O valor deverá ser pago em 24 parcelas, corrigidas monetariamente.
Pelo acordo, Milton Schahin ficará em prisão domiciliar por três meses, com tornozeleira eletrônica. Após esse prazo, cumprirá por nove meses o regime domiciliar semiaberto, ainda com tornozeleira, podendo deixar a residência entre às 7h e 21h de segunda a sexta-feira e permanecer recolhido em fins de semana e feriados.
O acordo, ao qual O GLOBO teve acesso, prevê que o empresário deve falar sobre os esquemas de corrupção investigados na Lava-Jato, a participação de políticos e a estrutura de organizações criminosas que tenha ou venha a ter conhecimento, identificando empresas e pessoas utilizadas na prática dos ilícitos.
Milton Schahin já foi condenado a 9 anos e 10 meses de prisão na Lava-Jato, por ter participado de um empréstimo de R$ 12 milhões feito em nome do pecuarista José Carlos Bumlai, mas que teria como destino o pagamento de dívidas de campanha do PT.
Segundo depoimentos de delatores, a dívida do PT era muito maior, de R$ 60 milhões.
Até agora, a força-tarefa da Lava-Jato havia identificado apenas uma parcela deste valor, a repassada por meio de Bumlai.
O pecuarista não pagou o empréstimo ao banco. Sua dívida foi quitada quando a Petrobras fechou um contrato de US$ 1,6 bilhão com o Grupo Schahin para operação da sonda Vitória 10.000.
Milton Schahin pode, em tese, revelar outros repasses feitos pelo ao PT, ligados a contratos com a estatal.
O Grupo Schahin abriu pelo menos 15 offshores para atuar na operação de sondas de exploração de petróleo para a Petrobras.
Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, em março do ano passado, o auditor da Receita Federal Cesar Nakano, que analisou os negócios da Schahin entre 2009 e 2013, afirmou que as offshores eram apenas “formais” e totalmente inoperantes. Segundo o auditor, elas só existiam para abrir contas no exterior e tomar financiamentos. O empréstimo a Bumlai envolveu o Banco Schahin, mas o grupo tinha como foco os negócios da Schahin Engenharia e da Schahin Oléo e Gás com o governo.
No caso do empréstimo a Bumlai, o pagamento da dívida foi fraudulento, com a simulação de dação em pagamento de sêmen de boi, o que não ocorreu.
Mesmo depois da condenação de Bumlai e do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, a força-tarefa da Lava-Jato manteve as investigações para descobrir o paradeiro dos R$ 48 milhões restantes, já que o empréstimo de Bumlai era parte de um valor bem mais alto.
IRMÃO JÁ FECHOU ACORDO
O primeiro a fechar acordo de delação premiada com a Lava-Jato foi Salim Schahin, irmão de Milton. O acordo foi firmado em novembro passado. Salim é pai de Carlos Eduardo Schahin, que presidiu o banco da família e foi condenado em 2014 por manter recursos não declarados em uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas. A instituição acabou sendo vendida ao BMG em 2011.
A gestão do banco criou atritos entre os irmãos Salim e Milton. Fernando Schahin, filho de Milton, foi apontado como o responsável pelo contato com a Petrobras.
O delator Fernando Soares, o Fernando Baiano, disse em depoimento de delação que acertou com Bumlai o pagamento de US$ 5 milhões ao ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró para garantir que o contrato do navio-sonda Vitória 10.000 ficasse com o grupo Schahin.
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