terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O historiador do Senado – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

- Na semana passada, o senador Romero Jucá apresentou uma proposta ousada. Ele queria mudar a Constituição para impedir que os presidentes da Câmara e do Senado sejam alvo de investigações.

Os ocupantes dos dois cargos atendem pelos apelidos de "Botafogo" e "Índio" na lista da Odebrecht. Se o texto fosse aprovado, eles poderiam tatuar o nome da empreiteira na nuca com a certeza de que jamais seriam incomodados pela polícia.

Para azar da dupla, a manobra veio à tona antes da hora e teve que ser abortada. O Congresso escapou de mais um vexame, mas Jucá não se convenceu de que a ideia era imprópria. Nesta segunda (20), ele subiu à tribuna para reclamar do episódio.

"Parece que estamos vivendo o período da Inquisição. Alguém gritava 'ele é um bruxo', e em uma semana estava na fogueira", protestou.

Os senadores não pareceram sintonizados com a Idade Média, e Jucá improvisou um salto na história. "Estamos vivendo a Revolução Francesa. Um 'J'accuse' levava as pessoas sumariamente para um tribunal do povo e para a guilhotina", discursou.

A lembrança de Robespierre não foi capaz de comover o plenário, e o senador arriscou uma última comparação: "Estamos vivendo a época do nazismo. Diz-se que um político é judeu. Então a Gestapo, o grupo de extermínio, toma conta dele".

Como candidato a historiador, Jucá é um grande presidente do PMDB. Se ele estiver mesmo interessado no ofício, poderia começar com um tema mais contemporâneo: seu famoso diálogo com Sérgio Machado.

O líder do governo Temer poderia esclarecer, por exemplo, por que defendeu o impeachment como a única saída para "estancar a sangria". Ele também teria a chance de explicar como funcionaria um acordo nacional "com o Supremo, com tudo".

Na tribuna, o senador preferiu deixar essa aula para depois. "Nós só vamos comentar isso no processo. Não vou comentar aqui, porque investigação se faz nos autos", desconversou.

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