Poucas vezes a política externa esteve no centro da agenda de um governo como nos dois mandatos presidenciais de Lula. A ação do Ministério das Relações Exteriores, porém, permaneceu contraditória ao discurso nos governos Lula e Dilma.
A política externa ficou no limite da retórica, com tinturas de ideologias obsoletas desde a Guerra Fria. E custou muito mais, embalada por um aumento de 47% no número de postos diplomáticos e consulares, de 74 para 140, com efeitos proporcionais nas despesas de pessoal e de custeio do Itamaraty.
Não houve preocupação com eficiência nos gastos. O Itamaraty, no período Lula e Dilma, abriu 66 representações, esmagadora maioria nas regiões de tíbio dinamismo e baixa renda.
Obteve-se alguma melhoria marginal no comércio, mas a conta foi tão desequilibrada que o retorno econômico mal cobre o investimento nas novas embaixadas. É correta, portanto, a decisão do governo Michel Temer de revisar a estrutura diplomática, sob critérios de prioridade e eficácia no uso do dinheiro público.
O Itamaraty precisa, pode e deve ir muito além. É a oportunidade para mobilização imediata, para um ajuste de foco na política externa do Brasil, em resposta às ações intempestivas e erráticas que a administração Donald Trump emite ao mundo. Abriu-se uma janela de oportunidade, na típica expressão da diplomacia americana, que o país pode capitalizar.
Trump deixou atônita a legião de aliados tradicionais dos EUA com sua retórica isolacionista e decisões protecionistas. Basta ver o abrupto aumento da incerteza no México e Canadá, parceiros no Nafta; no Chile, na Colômbia, no Peru, na Costa Rica e no Panamá, da Aliança para o Pacífico; ou ainda, nos parceiros do Acordo Transpacífico na Ásia (Japão, Brunei, Malásia, Cingapura e Vietnã), na Oceania (Austrália e Nova Zelândia) e nas Américas.
No labirinto econômico de Trump, fundado no fechamento de fronteiras ao fluxo de pessoas e mercadorias, o Brasil, em boa medida, pode vir a ser beneficiário do próprio isolamento, sob crônica escassez de capital — modelo de economia fechada que sustenta e o deixou marginalizado na revolução tecnológica.
O governo Temer tem a chance de revigorar o esquálido Mercosul, e de construir acordos em bloco ou bilaterais com os países do Nafta, da Aliança para o Pacífico e do Acordo Transpacífico. Claro, sem prejuízo à conclusão da negociação com a União Europeia, até dezembro, além de iniciativa mais incisiva com a China, cuja reciprocidade ao acesso de empresas brasileiras ao seu mercado se mantém exasperadamente tímida — o caso da fábrica chinesa de aviões da Embraer é exemplar.
Há uma oportunidade no mapa. Com alguma ousadia, diligência, bom senso e pragmatismo, o governo Temer pode reverter o legado de fracasso e perdas na política externa.
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