- Folha de S. Paulo
A tese não é nova, como bem lembra o ministro da Justiça, Osmar Serraglio. "Pecunia non olet", dinheiro não tem cheiro. Para o fisco romano, não importava se a quantia vinha de ilícitos. Para políticos de hoje, cédulas doadas não carregam vestígios de corrupção.
O STF relativizou a tese nesta semana. Dinheiro de caixa um pode feder. Ao transformar em réu o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), a Segunda Turma sinalizou que recursos doados oficialmente não têm o condão de legalizar propina. O senador declarou à Justiça Eleitoral que recebeu R$ 500 mil da Queiroz Galvão em 2010. Há suspeita de que o dinheiro tenha sido desviado de contratos da construtora com a Petrobras.
A corte quer investigar a origem dos valores. Isso aterroriza o Congresso de A a Z. Os partidos temem que o STF incorpore o argumento do juiz Sergio Moro, pois Curitiba já teria criminalizado as doações oficiais.
Enquanto a fedentina do caixa um não asfixia ninguém nos gabinetes de Brasília, nas mesas da cidade o senador Aécio Neves (PSDB) defende que um "cara" que ganhou dinheiro da Petrobras em benefício próprio não seja igualado a outro que recebeu "cem pratas para se eleger".
Mais que cem pratas, a Odebrecht relatou ao ministro do TSE Herman Benjamin que despejou no caixa dois de campanhas cerca de 20% dos US$ 3,4 bilhões em pagamentos ilegais que realizou até 2014.
O ministro —relator da ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer— ainda descobriu que disputas eleitorais foram irrigadas não só pelos caixas um e dois, mas também pelo caixa três. A Odebrecht depositava dinheiro em contas do grupo Petrópolis em paraísos fiscais, e a cervejaria financiava oficialmente diferentes partidos aqui dentro.
O tucano indaga: "Todo mundo ficará no mesmo bolo e abriremos espaço para um salvador da pátria?". Se a alternativa a isso é salvar a atual (velha) política, vale redarguir: E por que não, senador?
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