- Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Em troca de "permissão" para executar obras em territórios dominados pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), a Odebrecht pagou aos guerrilheiros colombianos "mensalidades" que variavam de US$ 50 mil a US$ 100 mil nos últimos 20 anos, segundo a edição da revista "Veja" desta semana.
Procurada, a assessoria de imprensa da empreiteira afirmou, em nota, que "desmente com veemência a afirmação de que a empresa teria feito pagamentos a grupo guerrilheiro na Colômbia, supostamente para obter 'permissão' à realização de obras em territórios onde atua este grupo".
Segundo a revista, os pagamentos às Farc teriam começado nos anos 1990, após dois funcionários da Odebrecht serem sequestrados pelos guerrilheiros e ficarem mais de um mês em um cativeiro na selva.
Na ocasião, segundo "Veja", a empreiteira contratou um grupo americano especializado em áreas de conflito para negociar com as Farc e pagar o resgate. Em seguida, para que não houvesse novos sequestros, a Odebrecht começou a pagar às Farc os valores mensais, por recomendação do grupo especializado contratado por ela.
Em geral, os valores eram incluídos nas planilhas de custo sob as rubricas "custo operacional" ou "tributo territorial" e os pagamentos eram feitos em dinheiro, diretamente nos canteiros das obras sob ameaça.
Os pagamentos não têm relação com o esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, mas, segundo a revista "Veja", foram informados à Procuradoria-Geral da República.
Em nota enviada na noite deste sábado, a Odebrecht negou o conteúdo da reportagem. "A informação não é verídica e coloca em risco a segurança de centenas de trabalhadores da empresa que atuam na Colômbia."
"As obras mencionadas como exemplo pela matéria (rodovia Rota do Sol e projeto de navegabilidade do Rio Magdalena) sequer se situam na área de atuação do grupo guerrilheiro citado", informou a empresa. A construção da rodovia Ruta del Sol e o projeto de navegabilidade do rio Magdalena são citados pela revista como empreendimentos em que teria havido pagamento a guerrilheiros.
A Folha também tentou ouvir um representante das Farc, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.
As Farc firmaram um acordo de paz com o governo colombiano em 2016. Segundo a revista "Veja", os "impostos guerrilheiros" foram cobrados de várias empresas até junho do ano passado.
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