Fabio Murakawa | Valor Econômico
BRASÍLIA - Em evento promovido pelo PT em Brasília para discutir estratégias para a economia brasileira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se classificou como um "pobre coitadinho que veio de Garanhuns", ao reclamar do "massacre" que diz sofrer por parte da mídia, e desafiou a força-tarefa da Lava-Jato a comprovar que ele cometeu atos de corrupção.
Em seu discurso, Lula também queixou-se da "pressão" feita sobre os presos em Curitiba, dentre os quais Leo Pinheiro, sócio da construtora OAS que afirmou na semana passada que Lula é o dono do tríplex no Guarujá. O executivo, que tenta a delação premiada, acusou também o ex-presidente de lhe haver pedido para destruir provas de que teria fornecido dinheiro de caixa dois de campanha do PT. Esta última acusação aumentou entre petistas o temor de que o juiz Sergio Moro decrete em breve uma prisão preventiva de Lula. "Eu vi agora a pressão que fizeram em cima do Leo no depoimento", disse. "Um cara que já está condenado a 26 anos de prisão pensa 'eu vou falar até da minha mãe'."
Lula também comentou a possibilidade de o juiz Sergio Moro adiar seu depoimento na ação penal que inclui o tríplex do Guarujá, marcado para o dia 3 de maio. O adiamento é um pedido da Polícia Federal. "Quero comparecer porque é a primeira oportunidade em que eu vou ter de viva voz o direito de me defender. É o direito que eu tenho de falar, porque faz três anos que eu estou ouvindo", afirmou.
Sobre as acusações de corrupção que Leo Pinheiro e a força-tarefa da Lava-Jato lhe imputam, ele afirmou: "Está na hora de acabar o falatório e mostrar provas."
Lula também queixou-se dos muitos minutos de exposição negativa que a mídia tem lhe dedicado nos últimos dias. E prometeu que, caso eleito, impulsionará uma lei para regulamentar a mídia no país. "Não sou de reclamar, mas ninguém aguenta 18 horas de Jornal Nacional tentando massacrar esse pobre coitadinho que veio de Garanhuns", disse.
Lula criticou a política econômica do governo Michel Temer e defendeu que o partido lute para construir uma maioria no Congresso nas eleições de 2018 "comprometidas com mudanças" e a fim de derrubar a emenda constitucional que impôs um teto aos gastos públicos pelas próxima s duas décadas. "Nós precisamos de maioria para mudar essa PEC [do teto dos gastos]. Essa PEC só interessa ao sistema financeiro."
A revogação dessa emenda faz parte de uma cartilha apresentada a Lula no evento pelas bancadas do PT na Câmara e no Senado, contendo seis medidas "emergenciais" para a economia brasileira.
As medidas foram divididas em subtópicos que incluem, entre outros: a retirada de pauta das reformas trabalhista e da Previdência; as linhas emergenciais do Banco do Brasil, do BNDES e da Caixa para refinanciamento de dívida e capital de giro; a liberação do depósito compulsório dos bancos para renegociar dívidas das empresas; aumentar as receitas públicas por meio de tributação progressiva; recuperar as empresas de construção civil; impedir e reverter "a fragmentação, destruição e privatização da Petrobras "; reduzir a taxa básica de juros real; definir duplo mandato para o Banco Central, que deve cuidar de inflação e emprego; e reduzir os ganhos bancários no crédito dos bancos oficiais para empresas e famílias.
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