Ex-presidente, também citado em delação da Odebrecht, diz que se acusações contra petista forem provadas, pode haver reflexo em votação
Daniel Weterman, Eduardo Laguna, Victor Aguiar e Circe Bonatelli |O Estado de S.Paulo
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou nesta segunda-feira, 24, que as acusações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) podem virar arma de campanha e que outros candidatos irão crescer na disputa para 2018. Diante da liderança do petista em pesquisas eleitorais, FHC disse que não acha Lula um "bicho-papão" porque o venceu duas vezes, em 1994 e 1998.
Após participar do Fórum Espanha-Brasil, na capital paulista, o líder tucano relativizou a liderança de Lula em sondagens de intenção de voto para 2018. "Pesquisa fora de época não é pesquisa, é projeção um pouco no vazio", disse. FHC falou ainda que, diante das acusações que o ex-presidente petista enfrenta, tudo o que se fala pode virar arma de campanha. "Se for verdade tudo que estão dizendo sobre o Lula, isso vira uma arma de campanha. E, sendo uma arma e campanha, afeta também a votação. Eu ganhei do Lula duas vezes, não acho o Lula um bicho-papão", disse.
As declarações do ex-presidente tucano ocorrem no mesmo dia em que Lula, alvo de cinco ações penais na Justiça, promove um seminário em Brasília, de onde se defendeu das acusações nos processos da Operação Lava Jato e afirmou que está tranquilo sobre o depoimento que vai prestar ao juiz federal Sérgio Moro. "Eu não sei se ele vai murchar, mas acho que outros vão crescer", afirmou FHC quando perguntado se as denúncias iriam desgastar Lula até as eleições. Citado pelo patrono da maior empreiteira do País, Emílio Odebrecht, FHC também pode ser investigado pela Justiça. O ex-presidente tucano é alvo de petição do ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, à Justiça de São Paulo. Fachin determinou a remessa dos autos para a primeira instância da Justiça Federal em São Paulo, onde reside o ex-presidente. Emílio revelou em delação premiada ter pago "vantagens indevidas não contabilizadas" às campanhas presidenciais do tucano.
Reformas. O tucano disse ainda acreditar que o presidente Michel Temer (PMDB) consiga aprovar as reformas que deseja até o fim do mandato, mas que as propostas dificilmente irão passar da forma como o peemedebista enviou ao Congresso. "Nenhum presidente consegue tudo que deseja, eu não consegui. Mas a gente consegue alguma coisa. O Brasil está em um momento tal que é necessário que medidas sejam tomadas", disse.
O ex-presidente afirmou que sempre haverá uma adequação no Congresso em relação às propostas do governo. "O Congresso nunca vai votar tudo o que o governo quer, mas o Congresso tem que estar atento não à próxima eleição, mas à sobrevivência do País." "Portanto, vai ter que fazer a reforma, acho que vai fazer", disse.
Populismo. Após falar que a globalização sofreu um "solavanco" com Donald Trump sendo eleito presidente dos Estados Unidos, FHC disse que o Brasil deve tirar proveito da situação e aproveitar para fazer acordos com mercados que ficarão fechados para a economia norte-americana. "O Brasil tem que tirar proveito da situação em que vive, a medida em que os americanos se encolherem, se é que vão mesmo se escolher, nós temos que nos expandir. É simples assim. Expandir onde? Na nossa região, tem que procurar o México", disse, completando que há outras nações para buscar, como aquelas que firmaram o Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP).
'Acordão'. Presentes no evento, tanto o ex-presidente como o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim negaram que haja uma conversa com Lula e Temer para uma salvação política de seus partidos após a Operação Lava Jato.
FHC disse que esse possível diálogo é "falso e ilusório". "Nunca ninguém falou nisso", afirmou. Ele defendeu que haja uma agenda pública em uma provável conversa. Para FHC, um diálogo entre os três líderes "por enquanto é só especulação de jornalista".
Jobim disse que não sabe "de onde tiraram isso", quando perguntado sobre o eventual "acordão". Ele e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foram citados como emissários do acordo entre os três caciques partidários. "Não tem esse diálogo. Foi uma criação", afirmou.
Para Jobim, é necessário um diálogo pela classe política "para se manter uma disputa eleitoral razoável", mas não necessariamente entre os três. Sobre a Lava Jato, o ex-ministro afirmou que 14% do Congresso está na lista de pedidos de abertura de inquérito no Supremo. "E são lideranças (que estão na lista). O que vai haver vai ser uma substituição de lideranças. É normal", declarou.
O ex-ministro afirmou ainda que, se o governo Temer não for bem-sucedido em sua agenda de reformas, uma onda de populismo poderá tomar conta das eleições presidenciais de 2018. "Se não tivermos resultados com o governo Temer, que deveremos ter, evidentemente nós vamos jogar em uma disputa populista de radicalizações", disse.
Comentando recentes pesquisas eleitorais, Jobim, que já foi ministro dos governos tucano e petista, disse que Lula lidera as sondagens pela história que tem. Já o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) poderá crescer, mas não se sustentará, afirmou.
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