Além da matemática, o governo começa a trabalhar com aliados a ideia de que, se nem o presidente está a salvo da Lava Jato, muito menos os deputados estarão
Caio Junqueira, O Estado de S.Paulo
O presidente Michel Temer consegue se equilibrar até agora com vitórias nos dois delicados eixos que ameaçam seu mandato, o político e jurídico. No primeiro, o avanço da reforma trabalhista no Senado e a timidez da base, em especial do principal aliado, o PSDB, em defender sua saída, são fatores que o ajudam a se sustentar no cargo. No jurídico, o resultado do TSE é um triunfo, tendo em vista as sinalizações de que um resultado negativo deflagraria uma debandada na base.
Mas será na votação na Câmara da aceitação ou não da iminente denúncia do Ministério Público contra Temer que esses eixos se fundirão. Hoje, há mais elementos para prever a rejeição da denúncia do que o aval. São necessários 342 votos para aceitar a denúncia e, portanto, Temer precisa de 172 votos para derrubá-la. Sua base hoje é bem menor do que a que ele tinha quando assumiu, em maio de 2016. Mas só o partido do presidente, o PMDB, com 64 deputados, tem quase a metade dos votos que Temer precisa para derrubar a denúncia. Como a oposição tem 99 deputados certos, faltaria angariar mais 108 votos dentre 414 possíveis, tarefa relativamente fácil para um governo que tem como característica o viés congressual.
Além da matemática, o governo começa a trabalhar com aliados a ideia de que, se nem o presidente está a salvo da Lava Jato, muito menos os deputados estarão. Daí a necessidade de uma união da classe política contra o que consideram abusos dos investigadores. Nesse sentido, derrubar um pedido de investigação de Janot seria a melhor forma de retaliação à Lava Jato.
A votação da denúncia é aberta. A popularidade do presidente não chega a dois dígitos. Logo, o parlamentar que rejeitar a denúncia e, assim, garantir fôlego a Temer, terá de se explicar ao eleitor daqui a um ano nas urnas. Novas delações ou novas diligências da Lava Jato tendo por alvo o Planalto podem agravar a situação de Temer. Mas não parece muito difícil para o Congresso optar entre manter um presidente fraco e a seus pés ou fortalecer aquele que é considerado o maior algoz da classe política, Rodrigo Janot. Nessas horas, é a sobrevivência que vai pesar.
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