Ex-presidente diz que ação movida pela PGR, por um lado, 'é sinal de que as instituições estão independentes, por outro lado, é gravíssimo' e volta a defender antecipação das eleições
Adriana Ferraz, O Estado de S.Paulo
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ressaltou na manhã desta sexta-feira, 23, que o País caminha para uma situação inédita e muito séria: a de ter um presidente da República denunciado por corrupção.
"O procurador-geral da República, baseado em uma investigação da Polícia Federal, que é submetida à Presidência, se dispõe a mover uma ação contra o presidente. E por corrupção. Isso nunca houve", disse o tucano durante palestra em São Paulo. "Se por um lado isso é sinal de que as instituições estão independentes, por outro lado, é gravíssimo."
Ao falar sobre a chance do presidente Michel Temer (PMDB) ser denunciado pelo procurador-geral Rodrigo Janot, FHC lembrou os últimos dias de Getúlio Vargas.
"Quando Getúlio Vargas era presidente, em um tempo em que os militares estavam muito assanhados, existia a chamada 'República do Galeão', formada pelo pessoal da Aeronáutica que fazia inquéritos militares. Um dia, chamaram o irmão do Getúlio, Benjamin Vargas. Pouco depois, Getúlio se matou porque descobriu que o irmão estava metido em confusões junto com o chefe de sua guarda pessoal. Era grave", disse o ex-presidente, que acrescentou: "Não estou dizendo que o Temer se mate, claro, prefiro outra coisa".
A "outra coisa", segundo FHC, é a antecipação das eleições por determinação do próprio Temer. "Ele podia chamar as forças políticas e antecipar a eleição para daqui a oito, nove meses. Isso para ter legitimidade."
O tucano, mais uma vez, se posicionou contra eventuais diretas-já e citou o teórico italiano Antonio Gramsci, que diz haver situações na política onde o "velho já morreu, mas o novo não nasceu", referindo-se à ausência de lideranças políticas no cenário brasileiro atual.
2018
FHC afirmou não acreditar ser impossível Luiz Inácio Lula da Silva ser derrotado nas urnas, caso seja candidato à Presidência da República nas eleições do ano que vem. “Acho difícil Lula recuperar o apoio que perdeu da classe média. Ele não representa mais o sentimento de esperança da época em que me substituiu. Agora os tempos são outros.
E se você tira o Lula do PT, cadê o PT? O Lula fica, o PT, não”, disse. Pesquisa do Ibope de abril passado mostrou que Lula voltou a ser o presidenciável com maior potencial de voto entre nove nomes testados pelo instituto. Pela primeira vez desde 2015, os eleitores que dizem que votariam nele com certeza (30%) ou que poderiam votar (17%) se equivalem aos que não votariam de jeito nenhum (51%), considerada a margem de erro. Desde o impeachment de Dilma Rousseff, há um ano, a rejeição a Lula caiu 14 pontos.
De acordo com FHC, as pessoas não vão votar em partidos em 2018, mas em uma liderança. Neste contexto, disse que o problema é o “azul”, em uma referência ao candidato a ser escolhido pelo PSDB. Apesar de afirmar que o partido tem várias lideranças, mesmo rachado, o tucano afirmou que essa escolha seja logo definida e que essa pessoa seja alguém com capacidade para falar com o Congresso e, principalmente, com o País. Usou como exemplo o atual presidente da França, Emmanuel Macron, que gravou e compartilhou seu dia a dia na campanha, e ainda citou o prefeito da capital, João Doria (PSDB).
“Por que o prefeito de São Paulo está fazendo algum sucesso? Por que ele manipula isso aqui (disse, tirando o seu celular do bolso e referindo-se à facilidade do tucano paulista de comunicar-se pelas redes sociais) o tempo inteiro. Ele mudou alguma coisa? Eu não vi, mas isso aqui ele saber fazer (comunicação)”, afirmou. “Não estou propondo que seja ele, não (o candidato), mas acho que precisamos mudar de geração. Para poder fazer frente a esse mundo novo, precisamos de outra cabeça, outra geração, pessoas que possam se comunicar com os mais jovens e de maneira mais atualizada.”
Para FHC, o lema da política hoje não deve ser mais “liberdade, igualdade e fraternidade”, em referência à Revolução Francesa, mas “liberdade, igualdade e dignidade”. Segundo o tucano, o componente ético passou a ser igualmente importante. “Dignidade implica em reconhecer as pessoas e ter um estilo de comportamento que respeite regras éticas mínimas. Isso tem de ser incorporado como ideal, para termos uma sociedade mais decente. Liberdade até que temos, igualdade não, porque depende de muitas coisas, mas a dignidade foi para o ralo. Temos de recuperar então esse sentimento.”
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