Num cenário político conturbado, os preços vêm tendo um comportamento surpreendente. Não poucos previram que o agravamento da crise política – provocado pela divulgação, em meados de maio, do conteúdo da delação na qual o empresário Joesley Batista, do Grupo JBS, apontou o envolvimento do presidente da República em esquemas de corrupção – alimentaria a inflação, mas os números mais recentes mostram o contrário.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 – conhecido como IPCA-15 e calculado pelo IBGE para medir a variação média dos preços nos 30 dias que antecedem a data de corte (dia 15 de cada mês) – registrou aumento de apenas 1,62% em seis meses, a menor alta no primeiro semestre desde 1994, e muito menor do que a alta observada no primeiro semestre do ano passado, de 4,62%. A variação no mês, de 0,16%, é a menor para junho desde 2006, quando se registrou redução média dos preços de 0,15%. Também no acumulado dos 12 meses o resultado é excepcional: os 3,52% agora aferidos estão abaixo dos 3,77% constatados em maio e ficaram acima apenas da variação acumulada em igual intervalo em junho de 2007 (3,44%).
Dois grupos que respondem por quase metade das despesas dos brasileiros registraram queda média dos preços no IPCA-15 de junho: o de alimentação e bebidas teve redução de 0,47% e o de transportes, de 0,10%. Os alimentos, em particular, que respondem por mais de um quarto dos gastos das famílias brasileiras (26% do total das despesas, segundo o IBGE), tiveram o maior impacto na contenção da alta do índice no mês.
Do lado oposto, as despesas com habitação foram as que mais subiram no período, em razão sobretudo da alta da conta de energia elétrica, de 2,24% em média. Outros itens que compõem o grupo habitação, como taxa de água e esgoto, condomínio e artigos de limpeza, também subiram mais do que a média do IPCA-15.
O IPCA refere-se a famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos e abrange as regiões metropolitanas de Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba, além de Brasília e Goiânia. Em duas dessas regiões, Fortaleza e Belo Horizonte, o IPCA-15 teve variação negativa.
Alguns economistas do mercado financeiro preveem que a inflação cheia de junho, a ser divulgada na primeira semana de julho, será negativa. Outros admitem que, no ano, o IPCA poderá registrar alta de 2,9%, abaixo, portanto, do limite de tolerância da política de meta inflacionária, que a fixou em 4,5%, com a margem de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos.
Mesmo que o IPCA tenha variação negativa em junho, será um resultado isolado. Provavelmente, os preços dos alimentos, que tanto contribuíram para conter a inflação até agora, começarão a subir, compensando parte da queda que apresentaram nos meses anteriores. Além disso, nos últimos meses do ano passado já se registrava uma inflação bastante baixa, de modo que será difícil que os índices deste ano para os respectivos meses sejam muito menores. O mais recente Relatório Trimestral da Inflação do Banco Central (BC) prevê que no trimestre final de 2017 a inflação de 12 meses fique em torno de 3,8%, mais alta do que a observada no IPCA-15 de junho, mas ainda assim bastante inferior à meta de 4,5%.
São números que justificam a avaliação do presidente do BC, Ilan Goldfajn, que considera a inflação “domada”. Mas é importante ressaltar que este é um dos aspectos da crise em que o País foi lançado pela irresponsável política econômica do governo Dilma Rousseff. Outros são bem menos animadores. A economia continua a enfrentar dificuldades para sair do fundo do poço. A demanda doméstica ainda é muito fraca, como apontou o relatório do BC e, por mais um ano, os investimentos continuarão caindo. A ajuda da agropecuária, essencial para assegurar o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, tende a se reduzir. E a crise política continua a perturbar o cenário econômico.
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