Presidente ataca Joesley e nega benefícios de seu governo à JBS
Eduardo Barretto e Eduardo Bresciani , O Globo
BRASÍLIA - Confrontado com a elevação de tom de Joesley Batista, dono da JBS, em entrevista à revista “Época”, o presidente Michel Temer chamou, em nota divulgada pelo Palácio do Planalto, o empresário de “o bandido notório de maior sucesso na história brasileira”. O presidente tentou colar a ascensão do grupo empresarial aos governos petistas, dos quais seu partido, o PMDB, era aliado nas gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Segundo Temer, as relações de “submundo” da JBS eram com “governos do passado".
“Ele (Joesley) diz que o presidente sempre pede algo a ele nas conversas que tiveram. Não é do feitio do presidente tal comportamento mendicante”, diz um trecho.
Na nota, bem mais extensa do que os habituais comunicados do Palácio do Planalto em reação a denúncias, o presidente informa que vai processar Joesley Batista. O texto destaca que a JBS tinha “milhões de razões” para ter “ódio” de Michel Temer e de seu governo, dando a entender que o presidente teria barrado várias investidas da empresa, uma delas relacionada ao BNDES:
“Em relação ao BNDES, é preciso lembrar que o banco impediu, em outubro de 2016, a transferência de domicílio fiscal do grupo para a Irlanda, um excelente negócio para ele, mas péssimo para o contribuinte brasileiro”.
ATAQUE INDIRETO À PGR
Sem mencionar nomes dos expresidentes Lula e Dilma, a nota cita a trajetória da JBS a partir de 2005, no fim do primeiro governo Lula, até 2016, já com Dilma Rousseff.
“Em 2005, o Grupo JBS obteve seu primeiro financiamento no BNDES. Dois anos depois, alcançou um faturamento de R$ 4 bilhões. Em 2016, o faturamento das empresas da família Batista chegou a R$ 183 bilhões. Relação construída com governos do passado".
O presidente sugere que houve proteção do delator aos petistas, que teriam participado de “pilhagens” com “sicários” (sanguinários), e seriam "tentáculos de organização criminosa".
Temer voltou a ironizar o acordo de leniência da JBS e de colaboração premiada de seus executivos, em busca de desqualificar as acusações contra si e também criticar a atuação do Ministério Público, responsável por esses acordos. A Procuradoria-Geral da República (PGR) está finalizando uma denúncia contra Temer, que deve ser entregue ao STF dentro de dez dias. A defesa de Temer argumenta que a gravação de Joesley é inválida, pois teria sido manipulada.
“(Joesley) Conseguiu enriquecer com práticas pelas quais não responderá e mantém hoje seu patrimônio no exterior com o aval da Justiça. Imputa a outros os seus próprios crimes e preserva seus reais sócios". O acordo de leniência da JBS ficou em R$ 10,3 bilhões.
O MP defende que é "o montante é o maior decorrente de acordos de leniência já firmados no Brasil e no mundo".
Também citado na entrevista de Joesley, o PSDB afirmou ser “absurdo” qualificar como propina as doações recebidas pelo partido da JBS. A legenda destaca que fazia oposição no plano federal e não deu qualquer contrapartida à empresa.
O ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) afirmou que o dono da JBS, Joesley Batista, tem “desenvoltura em mentir". Moreira nega qualquer relacionamento com o empresário.
A defesa do ex-presidente Lula divulgou nota para rebater as afirmações de Joesley. Segundo o advogado de Lula, “o empresário não aponta ‘qualquer ilegalidade cometida, conversada ou do conhecimento do ex-presidente Lula’”.
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