As contas externas acabaram fechando o semestre melhor do que se esperava. Depois de engrossarem entre o fim de maio e começo de junho em consequência da turbulência política desencadeada pela delação dos donos da JBS, as saídas de capital estrangeiro diminuíram. O balanço de pagamentos fechou com superávit em conta corrente em junho, pelo quarto mês consecutivo. Foi o melhor resultado para junho desde 2004, e o melhor para um primeiro semestre desde 2007, último ano em que o país registrou um superávit em conta corrente.
O resultado em conta corrente de junho foi positivo em US$ 1,33 bilhão, em linha com a expectativa do mercado e uma reversão do déficit de US$ 2,5 bilhões registrado no mesmo mês de 2016. No acumulado do ano, a conta corrente passou a apresentar superávit, de US$ 715 milhões, o maior desde 2007, e o déficit acumulado em 12 meses recuou para US$ 14,328 bilhões ou 0,76% do PIB. A melhora dos números foi sustentada novamente pela balança comercial, que apresentou superávit de US$ 6,963 bilhões, acima dos US$ 3,7 bilhões do mesmo mês de 2016. No ano, o saldo comercial atingiu US$ 34,9 bilhões.
O déficit de serviços somou US$ 3,192 bilhões no mês e US$ 15,551 bilhões no ano. O saldo dos gastos dos brasileiros com viagens internacionais ficou em US$ 1,13 bilhão no mês passado e US$ 5,75 bilhões no semestre, cifra bastante superior aos US$ 970 milhões de igual período do ano passado. Na conta financeira, o investimento direto no país somou US$ 3,991 bilhões, quase o dobro do esperado e 77% do total em participação no capital. Acumulado em 12 meses, o investimento direto no país exibe patamar invejável de US$ 80,615 bilhões. Dados preliminares do Banco Central mostram continuidade da tendência com US$ 3,1 bilhões investidos neste mês.
Já o investimento estrangeiro no mercado de capitais continua negativo, apesar de garantir um dos retornos mais elevados do mundo na renda fixa e do desempenho da bolsa de valores. As saídas somaram US$ 2,6 bilhões em junho, dos quais US$ 1,8 bilhão em renda fixa e US$ 861 milhões em ações. Em 12 meses, o saldo está negativo em US$ 13,8 bilhões. Neste mês, operações de lançamento de ações mantêm a conta de entrada de investimentos para compra de papéis em bolsa positiva em US$ 404 milhões, mas a renda fixa continua negativa, em US$ 852 milhões. A taxa de rolagem de títulos brasileiros no exterior caiu para 72% em junho em comparação com 149% em maio. No entanto, os dados preliminares de julho indicam uma melhora desse indicador para 96%. A taxa média do ano está em 93%, revelando melhora das condições de funding das empresas brasileiras em comparação com a taxa de 64% registrada em 2016.
O ajuste das contas externas segue sendo uma das poucas faces positivas da economia, ao lado do recuo da inflação, e é sustentado pelo bom resultado da balança comercial e pelos bons números do investimento direto no país e pelo cenário externo favorável. A previsão para o ano é de um saldo robusto, ao redor de US$ 60 bilhões. Do lado do financiamento, o investimento direto no país tem mostrado resiliência mesmo em cenário de turbulência política interna, favorecido pelas condições de liquidez ainda abundante e ajuste gradual dos juros internacionais, reduzindo a dependência dos capitais mais voláteis. A previsão do próprio Banco Central é que o investimento direto no país vai fechar o ano em US$ 75 bilhões, cobrindo com folga o déficit em conta corrente previsto em US$ 24 bilhões.
A manutenção de todas essas tendências que vêm contribuindo para o ajuste externo depende, em boa parte, do cenário internacional que foi bastante favorável no primeiro semestre, mas apresenta riscos maiores nesta segunda metade do ano, como salientou o Fundo Monetário Internacional (FMI) no Panorama Econômico Mundial, divulgado ontem. Apesar de ter mantido a previsão de crescimento da economia global em 3,5% neste ano e aumentado a projeção para o Brasil de 0,2% para 0,3%, o FMI alertou para os riscos derivados de um menor crescimento dos Estados Unidos e Reino Unido. O principal foco de preocupação dos técnicos do FMI é que os bancos centrais das economias avançadas implementem planos de retirar os estímulos monetários rapidamente. Um movimento brusco afetaria os países emergentes e em desenvolvimento que vêm recebendo capital a juros muito baixos. Por isso, o Fundo pede cautela aos países avançados, aproveitando que a inflação continua baixa.
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