terça-feira, 25 de julho de 2017

França demarca distância do Planalto

Por Fernando Taquari e César Felício | Valor Econômico

SÃO PAULO - Uma solução para a crise interna no PSB, dividido em relação ao afastamento do cargo do presidente Michel Temer, teria sido uma "saída honrosa do governo", de acordo com o vice-governador paulista, Márcio França, que é dirigente da sigla e um dos possíveis sucessores de Carlos Siqueira no comando do partido a partir de outubro deste ano, quando a Executiva Nacional deve ser renovada.

Atualmente a pasta de Minas e Energia é ocupada pelo deputado federal licenciado Fernando Coelho Filho (PE), que não aceitou a recomendação da direção do partido de se afastar do governo. O ministro recebeu apoio de um grupo minoritário de deputados, que segue a orientação da líder da bancada, Tereza Cristina (MS).

Na visão de França, a legenda deveria ter exposto a Temer sua divisão interna, que a impede de garantir seu apoio integral na votação da denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) contra o presidente, que pode ser votada no plenário da Câmara no dia 2 de agosto. "A maioria do partido é a favor de não estar no governo", diz.

Uma vez exposto o problema a Temer, afirmou o vice-governador, o desembarque teria sido um processo natural e que poderia ter reunificado a sigla, já que em sua opinião, a adesão ao governo pemedebista estaria na origem dos problemas internos. França lembra que, apesar de o ministro ser um quadro do PSB, o partido nunca se sentiu parte do governo Temer.

O movimento pela saída do governo, no entanto, pode resultar na redução do tamanho da bancada na Câmara. Cerca de 10 dos 37 deputados federais do partido ameaça pedir a desfiliação para se manter fiéis ao Planalto. Há outros três grupos no PSB: os que querem uma reaproximação com o PT, o que são favoráveis a uma candidatura própria em 2018 e os que defendem uma aliança com o governador paulista, Geraldo Alckmin.

O impasse deve ser resolvido em outubro, quando o PSB elege sua nova direção. França é um dos nomes cotados para comandar o partido em substituição a Carlos Siqueira, histórico aliado do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo durante a campanha presidencial de 2014. Outras possibilidades são o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, o ex-governador do Espírito Santo Renato Casagrande, ou o ex-deputado gaúcho Beto Albuquerque.

Aliado em São Paulo do PSDB, França refutou estar na direção contrária da tradição do partido. "Acham que eu não estou dentro do campo ideológico e isto é uma inverdade. Eu entrei no PSB antes de Arraes", afirmou em uma referência a Miguel Arraes, três vezes governador de Pernambuco, que foi por muitos anos o principal dirigente do PSB e que entrou na sigla em 1990. Ele elogiou o presidente nacional da legenda por ter intuído que o PSB deveria se afastar do governo federal.

A união em torno de França esbarra em sua pré-disposição em apoiar a candidatura de Alckmin à Presidência em 2018. Parte da sigla tende a buscar uma aliança à esquerda, em torno de candidaturas como as de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT). No segundo turno da eleição presidencial de 2014 o partido apoiou o PSDB contra o PT.

Nenhum comentário: