Oposição reconhece que articulação na CCJ pode derrubar parecer de Zveiter
Cristiane Jungblut, Eduardo Bresciani, Karla Gamba, e Tatyane Mendes - O Globo
Para construir uma maioria favorável ao presidente Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o governo utilizou líderes aliados em seis partidos para substituir nove deputados titulares no colegiado. Com isso, oposicionistas já reconhecem que deve ser derrotado o parecer de Sergio Zveiter (PMDB-RJ), que defende a autorização para que o Supremo Tribunal Federal (STF) analise a denúncia formulada pela Procuradoria-Geral da República. As mudanças, porém, evidenciam as dissidências na base, com deputados protestando abertamente contra as trocas. Dos nove que deixaram a CCJ, seis já afirmaram ao GLOBO voto contra Temer.
O PR foi quem fez mais trocas: quatro dos cinco titulares. Deixam a CCJ Jorginho Mello (PRSC) e Delegado Waldir (PR-GO), que anunciaram voto a favor da denúncia, e Marcelo Delaroli (PR-RJ) e Paulo Freire (PR-SP), que não se posicionaram. Entram em seus lugares Bilac Pinto (PR-MG), Laerte Bessa (PR-DF), Milton Monti (PR-SP), os três publicamente pró-Temer, e Magda Moffato (PR-GO), que não se manifestou. A mudança foi acertada depois de, na semana passada, Temer ter recebido Valdemar Costa Neto, que foi condenado no mensalão e ainda hoje é a principal figura do PR. O líder do partido, José Rocha (BA), justifica que a mudança é pela necessidade de a posição da legenda se refletir na comissão.
— Nós já tínhamos conversado com todos os titulares que a posição do partido era contra a denúncia e dito que se alguém estivesse desconfortável poderíamos fazer a substituição. Foi isso que foi feito — justificou Rocha.
O deputado Delegado Waldir, porém, reiterou sua indignação com a troca em discursos na comissão e entrevistas.
— Cambada de bandido! Tá tudo grudado no saco do governo! Quem manda é o Temer, esse bandido! É um lixo de governo! Quadrilha organizada! — protestou o parlamentar goiano.
Jorginho Mello (SC) contou que foi avisado de sua substituição enquanto estava na missa de sétimo dia pelo falecimento de sua mãe.
— Estou em Santa Catarina porque minha mãe faleceu. Estava na missa de sétimo dia e recebi a informação do líder que, se o meu voto fosse pela aceitação da denúncia, eu seria substituído. Então o que fazer? No Cunha eu fui tirado porque eu ia votar para condená-lo, e agora eu fui tirado porque eu ia votar para admitir — contou o deputado.
Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), Major Olímpio (SD-SP), João Campos (PRB-GO) e Expedito Neto (PSD-RO) são outros três que declaram voto a favor da denúncia e foram trocados por seus partidos. Entram no lugar deles Nelson Marquezelli (PTB-SP), Cléber Verde (PRB-MA) e Evandro Roman (PSD-PR), votos já declarados pró-Temer, e Laércio Oliveira (SD-SE), que não se posicionou. Foi substituído ainda José Fogaça (PMDB-RS), que não se manifestou, por Carlos Marun (PMDB-MS), um dos principais defensores do presidente.
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), um dos principais opositores a Temer, admitiu que com as nove trocas o governo deverá conseguir derrotar o parecer de Zveiter.
— Vai ficar, agora, 39 a 27 para eles, o que significaria que com a composição normal da CCJ nós venceríamos por 36 a 30. Todo mundo vai ver que essas mudanças serão fundamentais para esse resultado. Mas vamos aguardar até a votação — disse o parlamentar, que não quis revelar detalhes sobre o voto de cada colega porque ainda tem esperança de reverter alguma posição.
Mesmo com as trocas, deputados da base aliada continuam anunciando voto contra Temer na comissão. Ontem, Espiridião Amin (PP-SC) e Lincoln Portela (PRB-MG) anunciaram voto nessa direção. Amin até fez um desafio ao governo afirmando que uma eventual substituição sua seria uma “medalha de honestidade”.
— Se isso acontecer, será uma medalha para mim, uma medalha de honestidade, uma homenagem. Seria uma medida inócua e pouco inteligente porque daqui vai para o plenário e vou votar do mesmo jeito — afirmou Amin.
O deputado catarinense afirmou que o parecer de Sergio Zveiter é “irrecusável”, principalmente pelo fato de ele ser do mesmo partido do presidente.
— O PMDB tem a presidência da comissão, indica o relator do PMDB e ele diz que é pra aceitar, como eu vou barrar? Eu não vou mandar para debaixo do tapete um relatório feito pelo próprio PMDB — enfatizou.
Deputados da base aliada afirmaram que os movimentos ostensivos na CCJ foram necessários porque a aprovação de um parecer contrário ao presidente contaminaria o plenário. Por isso, mesmo com o desgaste, fazer as mudanças valeria o risco para evitar a formação de uma onda gigante contra Temer. A avaliação de parlamentares é que ao promover as trocas o governo demonstra que continua tendo força parlamentar ao menos junto às cúpulas partidárias, diferente do que aconteceu com Dilma Rousseff na reta final da votação do impeachment.
Líderes do “centrão” afirmam que novas trocas poderão ser feitas, se necessário. Alguns aliados, porém, se recusam a repetir os movimentos. É o caso do PSDB, partido no qual se calcula que seis dos sete titulares da CCJ votem contra o presidente. No DEM, partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), que pode ser beneficiário por uma queda de Temer, a expectativa é por uma divisão dos votos.
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