Por Marcelo Ribeiro, Raphael Di Cunto, Fernando Taquari e Carolina Freitas | Valor Econômico
BRASÍLIA E SÃO PAULO - O caráter informal da reunião da cúpula do PSDB na noite de ontem indica que nenhum martelo será batido sobre um eventual desembarque da base de apoio ao governo do presidente Michel Temer. Mas o partido foi frio às últimas tentativas de Temer de tentar manter a aliança da sigla: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não agendou um encontro pedido pelo pemedebista, mesmo depois de conversar com o presidente por telefone, durante o fim de semana.
Fernando Henrique, segundo sua assessoria, não confirmou a conversa até agora porque não sabe se terá espaço na agenda. O ex-presidente viaja para a Europa no começo da tarde de hoje.
O jantar no Palácio dos Bandeirantes reuniu Fernando Henrique, o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), os líderes do partido no Senado e na Câmara, senador Paulo Bauer (SC) e Ricardo Tripoli (SP), respectivamente, o prefeito da capital paulista, João Doria, os governadores Marconi Perillo (GO), Reinaldo Azambuja (MS), Simão Jatene (PA), Pedro Taques (MT) e Beto Richa (PR) e o presidente licenciado do partido, senador Aécio Neves (MG). O formato irritou lideranças da sigla que foram excluídas, como o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, que defende a manutenção do apoio ao Planalto.
Ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, Tripoli disse que uma reunião Executiva Nacional do partido deve acontecer nos próximos dias. De acordo com o líder do PSDB na Câmara, a preocupação com a governabilidade de Temer é geral no partido. A posição definitiva sobre uma eventual saída da legenda tucana da base governista deve acontecer apenas no encontro formal da Executiva, que será realizado depois da votação da reforma trabalhista no Senado, prevista para hoje.
Ao blog da jornalista Andréia Sadi, no portal "G1", Fernando Henrique reconheceu que o partido está dividido. Ele comentou declaração de Tasso de que a saída do partido do governo seria inevitável. "Ele expressou sentimento da Câmara, sentimento da sociedade, mas não o de todos os governadores", disse.
Segundo o governador Marconi Perillo, que defende a permanência do partido no governo, "o PSDB não tinha que estar no centro de uma crise que não é nossa". O governador goiano afirmou que, se o partido decidir sair, deve fazê-lo somente depois da votação da reforma previdenciária.
Prefeitos que não foram convidados para o encontro criticaram a postura do partido. Arthur Virgílio, prefeito de Manaus, disse que ficou "sem entender os critérios de convocação para a reunião" e fez uma análise da conjuntura política em mensagem ao partido.
"Não é possível que o PSDB se 'purifique', migrando do governo Temer, ao qual servem quatro ministros tucanos competentes e valorosos, para alguma 'solução' simplória em torno de alguma outra 'bola da vez', contra a qual nossos 'brios' terminariam por se voltar em algum outro momento dessa tragicômica história que estamos presenciando ser descrita", escreveu.
Virgílio contestou a proposta de alguns correligionários de deixar o governo, mas continuar apoiando a pauta econômica. "'Desembarcar' do governo, a pretexto de continuar apoiando as reformas - na verdade abrindo espaço real para o impedimento do presidente - não soaria como ato de coragem. Sinceramente, não! Definitivamente não!", afirmou. Favorável ao desembarque do PSDB do governo, Orlando Morando, que é prefeito de São Bernardo do Campo (SP), também criticou a convocação da reunião.
"Provavelmente a opinião de prefeitos, deputados, vereadores, militantes e dos mais de 50 milhões de eleitores que escolheram o número 45 na última eleição presidencial não será ignorada. Caso ignorem, podem arrasar a credibilidade e a confiança depositadas no partido pelos eleitores e pelos atores políticos", afirmou em nota.
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