Um problema de cada vez. É claro que Rodrigo Maia só é o presidente dos sonhos dele mesmo e talvez de alguns parentes. Além de seu nome já ter aparecido na Lava Jato —é assustador que os deputados tenham escolhido alguém sabidamente envolvido no escândalo para liderá-los—, ele não parece ter o traquejo nem a tarimba necessários para exercer bem o cargo. Mas a questão fundamental que se coloca agora diante da Câmara dos Deputados (e da sociedade) não é "quem queremos colocar na Presidência", mas sim "vamos ou não tirar Temer".
Se quisermos nos ater às regras do jogo democrático, como defendo que façamos, a opção por remover o presidente do cargo já implica sua substituição por Maia, ainda que temporariamente. Não dá para escolher uma outra pessoa sem rasgar a Constituição. Quem é "fora, Temer" e não é golpista é "Maia lá", por doloroso que seja admiti-lo. O problema central, portanto, é determinar se, a essa altura, é melhor para o país que Temer fique ou saia.
Embora eu reconheça que o peemedebista vinha, na área econômica, fazendo uma administração coerente, que preparava o terreno para a retomada do crescimento, ele foi engolido por faltas éticas que, vamos dizer a verdade, não deveriam surpreender ninguém. Já desde antes do impeachment de Dilma Rousseff eu alertava que um governo encabeçado por Temer e próceres do PMDB poderia ter problemas policiais, hipótese em que também deveria ser substituído.
Minha sensação é a de que Temer não só perdeu o capital político que lhe permitiria tentar arrumar a economia como agora, ao empenhar a caneta presidencial em agarrar-se ao cargo, começa a trabalhar contra a recuperação. Assim como a troca de Dilma por Temer trouxe certo alento às contas públicas, a substituição do ex-vice pelo nome seguinte na fila tende a desanuviar o ambiente.
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