- Folha de S. Paulo
O erro humano não é aleatório, tem indicado a ciência comportamental. O processo de tomada de decisões submete-se a tortuosos cálculos mentais que produzem resultados tão previsíveis quanto distantes do que seriam, pelo código racionalista, os corretos ou os melhores para o indivíduo e a sociedade.
Estamos inclinados a estabelecer vínculos instantâneos de causa e efeito em tudo o que presenciamos. A teoria da conspiração constitui o modo normal de operação do intelecto, como se pode testemunhar no espetáculo das redes sociais.
Apenas com esforço e instrução se equilibra um pouco esse jogo. Cidadãos e profissionais treinados a verificar o que dizem as leis básicas do país antes de publicar opinião evitariam confundir as prisões preventivas com punição aos corruptos.
Intérpretes expostos ao texto constitucional teriam dificuldade de encontrar instrumentos para a Justiça afastar do exercício do mandato congressistas eleitos pela população. Saberiam que a proposta de antecipar eleições gerais exige um poder revolucionário, capaz de derrubar pelo menos um dos pilares da Carta de 1988.
Desde o enfraquecimento de Dilma Rousseff se pede ao presidente da República que renuncie e "convoque eleições". Eis um exemplar do chamado raciocínio associativo, excelente mecanismo de adaptação da espécie humana, mas pródigo em produzir erros objetivos sistemáticos.
De tão poderoso, o presidente brasileiro evoca a imagem do imperador. Daí, deveria ser capaz de muitas coisas, inclusive de convocar uma eleição. A conclusão, contudo, é falsa. No Brasil, o chefe do Executivo não possui essa prerrogativa.
Ignorância, ideologia e inércia, argumentam os economistas Abhijit Banerjee e Esther Duflo, são os maiores adversários do desenvolvimento. Esses três mecanismos, poupadores de raciocínio analítico, sobejam na sociedade brasileira.
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