Por Andrea Jubé | Valor Econômico
BRASÍLIA - O presidente Michel Temer intensificou ontem as articulações para evitar uma derrota na votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Na reunião com líderes, ministros e advogados ontem à noite no Palácio da Alvorada, discutiu a estratégia diante da apresentação de um relatório favorável ao prosseguimento da acusação da Procuradoria-Geral da República, que será apresentado hoje pelo deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ). A notícia de que Zveiter votaria pela admissibilidade da denúncia contra Temer circulou ontem entre pemedebistas e preocupou o Planalto.
Além de redobrar as conversas, Temer resguarda-se do lado espiritual: sobre a mesa de jacarandá onde despacha no Planalto, cercou-se de uma imagem de Jesus Cristo e outra de Nossa Senhora de Fátima. Na saída do gabinete, desponta um quadro que ganhou da Convenção das Assembleias de Deus com a mensagem: "Oremos pelo nosso presidente". Recentemente, Temer declarou que foi "Deus" quem o colocou na Presidência.
Ontem à tarde, o líder da maioria, deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES), advertiu a bancada sobre o vazamento do relatório de Zveiter, que seria favorável ao recebimento da denúncia. A notícia repercutiu na reunião com líderes e ministros conduzida à noite por Temer. Procurado pelo Valor, Lelo negou que tivesse informações sobre o documento. Por sua vez, Zveiter negou o vazamento de seu relatório.
Temer antecipou o retorno da Alemanha para prosseguir com as articulações em defesa de seu mandato. Ontem, no fim da manhã, encontrou-se com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do Congresso, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Com Maia, conversou reservadamente por quase uma hora.
Temer foi advertido pelos aliados do risco de um resultado desfavorável na CCJ, que deve votar o relatório de Zveiter no fim da semana. Deputados do grupo pró-Maia contabilizam 36 votos contra 28 dos governistas. Em contrapartida, aliados do presidente apostam no placar favorável de 40 votos - seis além do necessário.
Uma vitória na CCJ não dispensa a votação no plenário, onde são necessários 342 votos para o recebimento da denúncia. Mas faz com que o presidente chegue fortalecido à etapa final do processo.
Num primeiro momento, Temer tenta conter a revoada do PSDB, que anunciou que deixa o governo depois da votação da reforma trabalhista. Para isso, pediu uma conversa com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que vem defendendo a saída do pemedebista e a convocação de eleições diretas.
O Planalto conta com o apoio do presidente licenciado da sigla, Aécio Neves (MG), cobrando reciprocidade do tucano. Isso porque o PMDB atuou para garantir o arquivamento da representação contra ele no Conselho de Ética do Senado. Aliados de Temer dizem que Aécio ainda tem influência na sigla, e que os movimentos pró-rompimento dos senadores Tasso Jereissati (CE) e Cássio Cunha Lima (PB) seriam "isolados".
Em outra frente, auxiliares de Temer estão atentos aos passos de aliados mais próximos a Maia. A avaliação no Planalto é que o parlamentar do DEM adotou uma postura de "neutralidade", mas não o seu entorno, que articula nos bastidores o recebimento da denúncia contra Temer pelo plenário da Câmara, para que Maia assuma a cadeira do pemedebista.
"Essa movimentação não está passando despercebida", observa um arguto auxiliar de Temer. "A política é feita de traições, mas ninguém ama o traidor", completa. Este auxiliar ressalta que, na vitória de Temer, os implicados no movimento pró-Maia perderão cargos e benefícios.
Para auxiliares de Temer, a central de articulação montagem do governo Maia é a casa do deputado Alexandre Baldy (GO), líder do Podemos. Deputado de primeiro mandato, Baldy é um dos mais ricos da Câmara: tem patrimônio de R$ 4,2 milhões declarados à Justiça Eleitoral. Nas reuniões em sua casa, oferece vinho francês Petrvs - uma garrafa das melhores safras pode custar R$ 27 mil.
Baldy integra o núcleo próximo a Maia, para quem abriu sua casa em Brasília, em junho, para uma concorrida festa de aniversário, à qual Temer compareceu. Foi indicado pelo presidente da Câmara para relatar o projeto da repatriação de recursos e da convalidação da dívida dos Estados. Mas Baldy não tem as portas fechadas no Planalto: no dia 28, foi recebido no gabinete presidencial como coordenador da Frente Parlamentar do Setor Sucroenergético.
Ao Valor, Baldy negou encabeçar ou integrar a articulação para que Maia assuma o lugar de Temer. "Nunca tive essa liderança e sempre defendi o presidente. Mas agora defendo que o governo atue para retomar a agenda econômica", afirmou.
Também chamou a atenção do governo as incursões semanais a Brasília do prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães (ACM) Neto, do DEM, num gesto interpretado pelos governistas como reforço de articulação pró-Maia. Um deputado do DEM disse ao Valor que a situação de Temer é "intranquila".
Em reação a esse processo, Temer intensifica as articulações junto ao antigo Centrão, formado por PP, PR, PSD, PTB, PSC e Solidariedade. O principal argumento junto aos deputados para barrar a denúncia é de que a acusação atinge "toda a classe política" e queda de Temer acionará um efeito cascata que culminará na derrocada de todos os políticos investigados. "Seria game over pra todo mundo", decreta um deputado aliado do governo. (Colaboraram Raphael Di Cunto e Edna Simão)
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