A atual situação econômica e política exige responsabilidade, especialmente de quem pode exercer influência direta sobre os rumos do País. São, portanto, descabidas as recentes declarações do presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), flertando com um possível desembarque de seu partido do governo federal, como se os tucanos não estivessem umbilicalmente vinculados ao atual ocupante do Palácio do Planalto.
Segundo Tasso, o Brasil “caminha para a ingovernabilidade” e “não dá para viver cada semana uma nova crise”, estando “na hora de buscar alguma estabilidade” para o Brasil. Ora, não cabe a Tasso reclamar de uma suposta falta de governabilidade, já que, se o seu partido se aprumar e deixar de questionar a cada dia a adesão ao governo de Michel Temer, parte substancial da governabilidade requerida se restabelecerá imediatamente. No momento, os únicos que não podem se queixar da instabilidade do governo são justamente os tucanos, pois são eles também responsáveis por tal situação.
O flerte de algumas alas do PSDB com o desembarque do governo, por mais que se queira apresentá-lo com cores de indignação com a corrupção, manifesta a fragilidade do compromisso desses grupos com o interesse nacional. Todos os motivos que levaram o PSDB a apoiar em 2016 o governo de Michel Temer permanecem intactos, em especial a necessidade imperiosa de aprovar as reformas previdenciária e trabalhista. O que tem mudado é a disposição de parte do tucanato.
Se o acirramento do clima político causado pela denúncia de Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer faz com que o PSDB pense em abandonar o governo, a legenda comete sério equívoco. Em primeiro lugar, haveria uma gritante disparidade de tratamento dado pelos tucanos a Michel Temer e ao presidente licenciado de seu partido, senador Aécio Neves (MG), também alvo das denúncias do procurador-geral da República. Tal atitude indicaria que, se os membros do partido merecem uma completa indulgência, os estrangeiros dele não podem esperar senão uma apressada condenação. Ou seja, demonstrariam ao mundo que não têm palavra, não são confiáveis.
“Nem Lula nem Dilma tiveram esse tratamento de nossa parte quando éramos oposição”, lembrou o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), ministro das Relações Exteriores, em vídeo em defesa do presidente Michel Temer. Ao estourar a crise do mensalão em 2005, o PSDB foi bem cordato com o então presidente Lula. Agora, quando se trata de um governo do qual faz parte desde o primeiro dia, a legenda deseja encarnar uma acintosa belicosidade?
É de reconhecer que o novo padrão de comportamento do partido denotaria, mais do que um compromisso com a moralidade pública, um apego a certos ventos da opinião pública. Não poucos poderiam apontar que, mais do que por supostas provas irrefutáveis contra o presidente Michel Temer - que até o momento não foram apresentadas pelo procurador-geral da República -, o PSDB estaria a abandonar o barco do governo em razão dos baixos índices de aprovação do Palácio do Planalto. O mesmo raciocínio serviria também para explicar a inexplicável compreensão com que a legenda tratou Lula na crise do mensalão. Na época, o petista gozava de massivo apoio popular. Ou seja, eventual desembarque do PSDB reforçaria a maldosa tese de que a legenda evita atuações corajosas, manuseando seus princípios em troca de aplausos momentâneos.
Diante das turbulências atuais, não é fácil posicionar-se com acerto a respeito dos inúmeros desafios nacionais. Justamente por isso, o que se espera do PSDB é um firme compromisso com as reais prioridades do País. Mais do que acenos populistas ou de oportunidade, que desfiguram sua identidade, a maior contribuição que o PSDB pode dar ao País é manter-se no governo, na atitude firme e equilibrada de não transigir com qualquer tipo de corrupção e, ao mesmo tempo, não abandonar o caminho capaz de tirar o Brasil da crise. Afinal, é o que se espera de todo grande partido - ter olhos para o País e para o futuro.
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