- O Estado de S. Paulo
Temer voltou tão isolado para Brasília quanto esteve durante a reunião do G-20 em Hamburgo. Nas 30 horas que passou na Alemanha, não participou de nenhum encontro bilateral com os outros 35 líderes mundiais que posaram para a foto oficial da cúpula. No Brasil, sofre isolamento diferente. Sobram reuniões tête-à-tête, mas escasseia a sinceridade dos apoios declarados.
Até o PSDB parece, enfim, decidido a desembarcar de Temer. Tucanos testam discurso segundo o qual não apoiavam o governo, mas as reformas. A eventual aprovação da trabalhista no Senado, esta semana, seria a deixa para abandonarem uma parceria que só faz afundar a popularidade do partido. Será difícil sustentar tal discurso, porém, se, saído Temer, o PSDB voltar à Esplanada. Volta? Nem saiu, já está pensando em voltar?
Sim, a transição que se prenuncia é digna de “Il Gattopardo”. Se algo precisa mudar para que tudo permaneça como está, que seja logo o chefe. Sai o presidente, fica o governo. Boa parte dos ministros é candidata a ficar na cadeira. Henrique Meirelles, Mendonça Filho e Fernando Coelho, entre eles. A Brasília de Rodrigo Maia é a tropicalização da Sicília de Lampedusa.
Se confirmado o roque presidencial, as dúvidas principais permanecem, acrescidas de novas. Mudam as respostas, todavia.
Escapará o novo presidente da investigação da Lava Jato? Se não mantiver encontros noturnos e secretos com figuras suspeitas durante o exercício do mandato, estará temporariamente imune pela prerrogativa do cargo. Enquanto ocupá-lo, não pode ser processado por ser “Botafogo”. Temer é contra-exemplo para Maia.
As reformas passarão no Congresso? Cada vez mais se dissemina a avaliação de que o fim de direitos trabalhistas e a idade mínima para aposentadoria passarão apesar de Temer, não por causa dele.
Então o governo Maia será aquilo que o de Temer poderia ter sido nos sonhos mais molhados dos operadores do mercado? Política não é algoritmo. Os mesmos comandos podem dar resultados opostos, dependendo do timing, do jeito e dos atores envolvidos. Apesar de a maioria do elenco tentar manter seus papéis, alguns protagonistas terão saído de cena junto com o presidente.
A começar pela Turma do Pudim.
Eles dominaram o PMDB por mais de 20 anos. Geddel está na cadeia. Padilha deve exilar-se junto com Temer. Renan rebelou-se e foi saído da confraria. Barbalhos e Lobões estão às voltas com advogados. Até satélites que orbitavam a turma, como Henrique Alves e Eduardo Cunha, acabaram vendo o sol e todos os astros sob novo e quadrado ponto de observação. Quem vai substituí-los?
Depois do Clube do Poire e da Turma do Pudim, o PMDB conseguirá se organizar em torno de nova irmandade gastronômica para continuar sendo o fiel do poder em Brasília? Ou a confederação de cacicados regionais peemedebista finalmente se romperá? Se isso acontecer, quem assumirá seu papel? O Centrão? O PSDB?
As perguntas não param por aí. Depois do festival de traições, há que se prestar atenção redobrada na linha sucessória. Quem será o novo presidente da Câmara e potencial “vice” de Maia? Fábio Ramalho (neo PMDB, ex-PMB, ex-PV, ex-PTB)? Quem? Pois é.
A princípio, a eventual substituição de Temer por Maia deverá ter efeito positivo sobre as expectativas econômicas. Mas os problemas estruturais da política brasileira não abandonarão o Planalto com o presidente, com não abandonaram junto com Dilma. O lampedusiano “novo” ministério que se negocia é prova disso.
O que se pode esperar, então? Surtos de otimismo, intercalados com períodos de ceticismo. A duração de cada um dependerá da habilidade dos pacientes encarregados da gestão do sanatório.
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