- O Globo
Economia melhora, mas não se descola da política. A economia está colhendo uma série de boas notícias, mas isso não quer dizer que esteja se descolando da política. Com uma crise da gravidade que o Brasil vive, a economia permanecerá com o freio de mão puxado. Os bons dados de agora são o resultado dos acertos do último ano na escolha da equipe econômica e nas primeiras decisões tomadas pelo governo Temer.
A alta de 0,8% da produção industrial de maio, divulgada ontem, foi maior do que o previsto pelos economistas e é mais um dos vários dados positivos recentes. É o segundo mês consecutivo de alta. A comparação interanual subiu 4%. Ainda assim, a produção industrial está 18,5% abaixo do que estava antes de a recessão começar. Por isso, nem se pode falar em recuperação, mas apenas em redução do tamanho da queda.
Esta semana será divulgado o número de deflação do IPCA de junho. Segundo o professor Luiz Roberto Cunha, a inflação será negativa entre 0,15% e 0,20%, o que levará o índice anual para 3%. Ele acredita que a taxa ficará abaixo de 3% quando sair o resultado de julho.
Em parte, a queda da inflação é explicada pela prolongada recessão, mas este não é o único motivo. Há várias razões pontuais, como a inflação baixa do item alimentação no domicílio, a queda da gasolina e da energia, apesar da volta em julho da bandeira amarela. A grande explicação para a queda de mais de sete pontos percentuais na taxa anual de inflação é o conjunto do que aconteceu desde que houve a mudança no Ministério da Fazenda, no Banco Central, na política econômica e na Petrobras, há pouco mais de um ano. Ainda que os resultados fiscais sejam ruins, há muito mais confiança na atual administração da política econômica.
Esses acertos elevaram os índices de confiança dos consumidores, dos empresários do setor industrial e do comércio. Eles estão cerca de 10 pontos acima do mesmo mês do ano passado, apesar de terem caído após a delação dos irmãos Batista. O cenário com que os economistas, bancos, consultorias e empresas trabalhavam, de melhora gradual na economia e aprovação das reformas, principalmente a Previdência, mudou radicalmente após a revelação da reunião do Jaburu. Mesmo assim, o patamar dos índices de confiança é maior do que o período final do governo passado.
No setor automotivo, há uma clara sensação de alívio. De acordo com o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção, o primeiro semestre chegou ao fim sem fechamento líquido de concessionárias e houve estabilidade no emprego. Houve o fechamento de 170 mil vagas e 1.300 lojas entre janeiro de 2015 e dezembro de 2016. Nos automóveis e veículos leves, o semestre terminou com crescimento de 4,25% nas vendas. A expectativa da federação é que o ano se encerre com alta de 4,3% nesses segmentos. Os problemas aparecem nos números de caminhões (-15,6%), ônibus (-13,8%), e motocicletas (-21,9%), que chegaram a junho com quedas em dois dígitos no acumulado do ano.
— Caminhões e ônibus dependem ainda de uma recuperação mais forte da confiança, para destravar os investimentos. Já o segmento de motos sente muito o momento do mercado de trabalho. Mais de 90% das vendas são de baixa cilindrada, ou seja, para pessoas de baixa renda, que sofrem mais com o desemprego — disse.
O crédito continua restrito, diz Assumpção. Mesmo com a queda da Selic, os bancos estão sendo duros na concessão de empréstimos. Ele diz que apenas 30% dos pedidos de financiamentos são aprovados para a venda de carros. No setor de motocicletas, o percentual é ainda mais baixo, 10%. Os bancos brasileiros, em plena crise, e depois da queda dos juros básicos, elevam os juros e fecham o crédito. Conseguem fazer isso pelo alto grau de concentração do setor.
A alta do PIB no primeiro trimestre, a queda forte da inflação, a redução da Selic, a melhora na confiança, o supersaldo da balança comercial e alguns indicadores positivos na produção e nas vendas melhoram o ambiente econômico, mas uma retomada do crescimento não está ocorrendo ainda. Nem poderia, com a balbúrdia na política. O país está conseguindo fazer lentamente e de forma hesitante o caminho de volta depois da grande recessão que começou no fim de 2014.
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