Governo Maduro celebra resultado claramente manipulado. Abstenção foi recorde, e repressão a manifestantes deixou 15 mortos e inúmeros feridos e presos
O governo de Nicolás Maduro produziu no último domingo mais um duro ataque à democracia venezuelana, ao levar adiante a eleição de uma Assembleia Constituinte, desenhada para dar poderes ilimitados ao Executivo bolivariano e anular a voz institucional da oposição. Os candidatos são todos defensores do governo, entre os quais a mulher e o filho do presidente venezuelano. Marcado por intensa repressão, com pelo menos 15 mortos e inúmeras prisões e feridos, além de um índice histórico de abstenção, o pleito consuma o golpe de Estado de Maduro.
A procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, anunciou ontem que não reconhecerá a Assembleia Constituinte, a qual classificou de ilegítima. Além do boicote interno dos eleitores, a votação do último domingo foi condenada internacionalmente por uma lista crescente de países, entre eles o Brasil, vizinhos sul-americanos, a União Europeia e os EUA, que anunciaram na semana passada a aplicação de sanções contra altos funcionários do governo. Se a pressão internacional é importante neste momento, a aplicação de sanções, porém, deve ser feita com cautela para não prejudicar a população já combalida pela grave crise econômica e social provocada pelo regime chavista.
Segundo a oposição e analistas, apenas 12,4% dos eleitores compareceram às urnas (2,4 milhões de eleitores), apesar da pressão do governo. A consultoria ORC informou que mais de 80% dos eleitores não votaram. Os números oficiais, cuja apuração não pôde ser acompanhada por observadores independentes, indicaram um comparecimento de 41,5%, cerca de 8,1 milhões de eleitores. Trata-se de uma farsa mal disfarçada para apresentar um comparecimento superior ao da votação simbólica realizada pela oposição, no dia 16 de julho, quando 7,2 milhões de eleitores participaram, dos quais 98,4% (6,4 milhões) rejeitaram a criação da Assembleia Constituinte.
Chama a atenção a escalada de repressão no dia da votação, com o governo de Maduro seguindo a receita cubana, com avanços e recuos, sem abrir espaço real para uma solução. A transferência para prisão domiciliar de Leopoldo López, um dos líderes da oposição, é exemplar desse tipo de estratégia, que confunde e dá argumento nos fóruns internacionais aos defensores do regime. Aliados bolivarianos, por exemplo, impediram que a OEA tomasse uma posição mais firme contra Maduro.
Em nota, o Itamaraty lamentou que a Venezuela tenha ignorado os pedidos da comunidade internacional para suspender o que é considerado mais um passo no agravamento da crise política do país. A diplomacia brasileira, porém, não esclareceu se reconhecerá ou não o resultado do voto. Mais do que nunca é preciso apoiar uma saída negociada, aproveitando inclusive as divisões internas do chavismo. Do contrário, o país caminhará para uma guerra civil, enquanto se agrava uma crise humanitária com reflexos em outros países, o Brasil entre eles.
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