Confiante de que tem votos para barrar na Câmara a acusação contra Michel Temer por corrupção passiva, governo tenta garantir quórum e convoca deputados das siglas aliadas
Igor Gadelha Isadora Peron Renan Truffi / O Estado de S. Paulo.
O governo iniciou uma investida para garantir a presença de deputados da base aliada que se declaram indecisos e até mesmo favoráveis à denúncia contra o presidente Michel Temer na sessão da Câmara que vai analisar a acusação formal por corrupção passiva. O Planalto quer garantir que a votação seja concluída amanhã no plenário. O objetivo é não depender da oposição, que reúne cerca de 100 deputados e pode adotar a tática de não registrar presença e obstruir a sessão para impedir que a votação ocorra.
O Planalto age para liquidar a votação o mais rápido possível, principalmente para não deixar Temer exposto ao surgimento de fatos – como possíveis novas delações – que possam mudar o placar, hoje considerado favorável ao presidente.
Integrantes da chamada “tropa de choque” de Temer na Câmara passaram a ligar para os deputados da base indecisos e favoráveis à denúncia para pedir que compareçam à sessão de amanhã, independentemente de como votarão. Nas conversas, apostam no argumento de que esses parlamentares não podem fazer o “jogo” do PT. Parte da legenda petista defende não dar quórum para impedir a votação.
A sessão plenária em que a aceitação ou não da denúncia será analisada está marcada para começar às 9 horas. A votação de fato, contudo, só poderá iniciar quando pelo menos 342 deputados registrarem presença – mesmo número mínimo de votos exigidos para que a denúncia seja aceita pela Câmara. O governo acredita que tem condições de garantir essas presenças apenas com a base aliada. Pelos cálculos de governistas, os partidos da base reúnem juntos 380 deputados.
“A bancada do PMDB estará presente para votar”, afirmou o líder do partido na Câmara, Baleia Rossi (SP), um dos deputados mais próximos de Temer. Segundo ele, o presidente pediu durante reunião no domingo que líderes da base aliada mobilizem suas bancadas para “votar a qualquer momento”.
Doze ministros do governo que são deputados licenciados devem reassumir os mandatos na Câmara para ajudar a barrar a denúncia.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reafirmou ontem ter certeza de que haverá presença mínima para a votação. “Vai ter quórum”, disse ao Estadão/Broadcast.
Estratégia comum. Líderes de partidos da oposição vão se reunir hoje para tentar traçar uma estratégia conjunta de atuação. O grupo está dividido sobre registrar presença ou não e ajudar o governo a ter o quórum mínimo. A estratégia de obstruir a sessão é defendida por parlamentares da Rede e do PSOL. Segundo eles, postergar a decisão pode aumentar o desgaste de Temer.
Além de grupos do PT, parte do PC do B e do PDT, no entanto, tem defendido que é melhor realizar a votação amanhã para expor os deputados da base à pressão popular. Além da acusação formal por corrupção passiva já em tramitação na Câmara, a Procuradoria-Geral da República ainda estuda apresentar até setembro pelo menos mais uma denúncia contra Temer por obstrução de Justiça e organização criminosa.
O líder do PT, deputado Carlos Zarattini (SP), rebateu as críticas de que o partido, mirando nas eleições de 2018, estaria preferindo que Temer se salvasse da denúncia para continuar fragilizado até o próximo ano. “Não existe essa conversa de deixar o presidente da República sangrar”, disse.
Já o deputado Sílvio Costa (PT do B-PE) fez um apelo para que os colegas da oposição não marquem presença na sessão. “Se a gente não votar, talvez Temer tenha alguma dignidade e renuncie.”
Colaboraram Vera Rosa e Tânia Monteiro
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